Na temporada 2022/23 o consumo de milho no Brasil foi de 79,601 milhões de toneladas, o que aliado a uma exportação de 56 milhões e uma importação de 1,5 milhão, rendeu estoque de passagem de 5,940 milhões de toneladas, de acordo com os dados oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Na primeira reportagem da série especial do Notícias Agrícolas, é visto que as perspectivas para 23/24 apontam menos produção do cereal no país, porém a demanda interna por milho deverá seguir crescendo. O último levantamento da Conab, divulgado neste mês de janeiro, estima um consumo de 84,367 milhões de toneladas de milho no Brasil ao longo deste ciclo.
“Em 2023 tivemos um consumo próximo de 81 milhões de toneladas de milho e podemos chegar às 85 milhões em 2024”, diz Stefan Podsclan, Consultor de Grãos e Projetos na Agrifatto.
Rações e proteínas animais em 2024
Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), o setor consumiu 52 milhões de toneladas de milho em 2023 e deverá demandar 55 milhões em 2024, um aumento de 3 milhões de toneladas que representa aumento de 5,45% na necessidade pelo cereal.
Apesar da projeção de menos milho no mercado, não é a falta de produto que preocupa o setor, mas sim o reflexo disso nos custos da indústria. “Tem uma queda de 11% na produção até o momento, mas a contabilidade mostra que tem milho suficiente para atender rações, etanol e exportação. A especulação é o que preocupa mais, à medida que o mercado se antecipa a possível falta de milho. Se a especulação prevalecer vai haver reajustes de preços e isso preocupa”, comenta o CEO do Sindirações, Ariovaldo Zani.
Diretor de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Luis Rua, estima que o consumo de milho pelos setores de avicultura de corte, avicultura de postura e suinocultura deverá crescer 1 milhão de toneladas com relação ao utilizado em 2023 e chegar em 44 milhões de toneladas em 2024, mas não vê um cenário preocupante até o momento.
“Preocupação há, porque o milho é um insumo muito importante, mas vejo que 2023 foi um ano atípico, com safra recorde de milho muito acima dos anos anteriores. Em 2024, pelas projeções atuais, ainda deveremos ter a segunda maior safra de milho da história do Brasil”, comenta Rua.
Caso enfrente desabastecimento, ou aumento grande nos custos, o setor já se prepara para a possibilidade de substituir parte do milho utilizado com outros produtos. “Tradicionalmente o milho pode ser substituído, depende da disponibilidade e do custo. Estamos nos dedicando aos estudos de produção de cereais de inverno, especialmente no Sul, mas em outras localidades também”, diz Zani.
Etanol de milho
O setor de etanol de milho é um demandante que surgiu recentemente e vem ampliando sua demanda ano após ano. Como exemplo desse crescimento constante de demanda, a Coamo Industrial planeja construir uma nova usina de etanol de milho em Campo Mourão no Paraná. Esta usina terá capacidade para produzir 258 milhões de litros por ano e 180 mil toneladas por ano do coproduto do processamento DDG. Além disso, a estimativa da cooperativa é que 20% de todo o milho recebido pela empresa seja destinado à produção do biocombustível.
No ciclo que se encerrara no próximo mês de março, a União Nacional do Etanol de Milho (Unem) estima um consumo de 14 milhões de toneladas do cereal. Por outro lado, projeta um aumento de 2 milhões de toneladas para a próxima temporada, chegando às 16 milhões de toneladas de milho consumidas no país.
Apesar deste aumento na necessidade de milho, o setor não está preocupado com relação ao abastecimento neste momento. “A gente enxerga a redução de oferta mais em relação ao que foi a última safra, que foi de produção recorde, do que uma queda efetiva. A safra retrasada foi de 113 milhões de toneladas, a passada de 126 milhões e agora devemos voltar ao patamar de 2022. Tem milho para abastecer todas as cadeias demandantes do mercado interno e ainda sobrar excedente exportável”, diz Guilherme Nolasco, Presidente da Unem.
Exportação em 2024
Com projeção de menos milho produzido e mais milho consumido no mercado interno, de onde vai ser tirada essa diferença? Atualmente, a Conab prevê aumento na importação de grãos para 2,1 milhões de toneladas e queda nas exportações de 56 para 35 milhões.
“2023 foi muito bom para as exportações, foi um ano de recorde de embarques tanto para soja quanto para milho. As 56 milhões de toneladas de milho superaram o recorde anterior em 11 milhões de toneladas. 2024 será ano de descanso nas exportações, com redução para 15 milhões de toneladas, voltando aos níveis de 2022, segundo Sergio Mendes, Diretor da Anec.
Na visão de Mendes, o mercado interno está disposto a pagar para não diminuir o abastecimento, então é natural que a redução venha das exportações. Liderança prevê embarques próximos a 40 milhões de toneladas em 2024, devido à queda na produção.
As exportações de milho do Brasil vão cair de 55 para 35-40 milhões de toneladas devido à menor produção. Isso afetará as exportações, mas o mercado de rações e etanol permanecerá robusto. Ademais, a China tornou-se o principal comprador, importando quase 17 milhões de toneladas em 2023. Apesar de uma possível queda em 2024, o setor de etanol de milho permanece forte, com demanda e produção sustentadas por margens sólidas. O consumo de proteína animal reduziu em 2024, e problemas na safra podem elevar os preços.
Estoques de passagem
A Conab prevê, para o final de 2024, um aumento dos estoques de 5,940 para 6,276 milhões de toneladas, uma perspectiva baseada na oferta e demanda atual. Contudo, a visão da Abramilho diverge significativamente destes números. Segundo a entidade, espera-se uma redução dos estoques de passagem ao final do ano. “O estoque de passagem será muito baixo, com certeza o estoque mais baixo dos últimos cinco anos. A gente acredita que o consumo interno vai passar das 80 milhões de toneladas de 2023 para 84 ou 85 milhões”, opina Otávio Canesin, Presidente da Abramilho.
Fonte: Guilherme Dorigatti | Notícias Agrícolas