Até o início das chuvas e enchentes registradas no Rio Grande do Sul, os produtores do estado já haviam colhido 86% das lavouras do cereal, restando por tanto 14% dos 812 mil hectares cultivados que deverão sofrer grandes danos.
“Ainda resta essa fração por colher, que certamente terá avarias muito importantes”, avalia o Diretor Técnico da Emater/RS, Claudinei Baldissera.
Sendo assim, a produção de milho gaúcha terá mais um ano complicado, após acumular safras consecutivas de perdas devido à falta de chuvas, dessa vez foram as precipitações as causadoras do problema. Porém, apesar de toda a situação, o estado ainda deverá produzir mais milho do que no ano anterior.
De acordo com os dados oficiais da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o Rio Grande do Sul colheu 3,731 milhões de toneladas de milho na safra verão 2022/23 e deveria colher 5,131 milhões agora em 2023/24, um crescimento de 37,5%, o que supera as potenciais perdas devido à chuva.
Impactos das chuvas na colheita de milho
“Ainda é cedo para estimar de forma concreta as possíveis perdas no Rio Grande do Sul. No final da colheita, as perdas são limitadas. Cenários variam com grãos por colher, incluindo plantas acamadas e grãos germinando ou mofados. Ruan Sene, Analista da Grão Direto, alerta: alta redução de qualidade pode aumentar risco de fungos prejudiciais à saúde humana e animal.
Valdecir Folador, Presidente da ACSURS (Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul), destaca que as regiões mais produtoras de milho no estado, Norte e Nordeste, foram as menos afetadas pelas chuvas e que o Rio Grande do Sul colheu uma grande safra, com muito milho já estocado.
“O produtor ou a indústria estão comprando no mercado interno. Entre julho e agosto começa a entrar colheita do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná e aí, dependendo da oferta da safrinha, vai buscar onde for mais viável. Essa situação já costuma acontecer no estado, entrando na safrinha, o produtor se abastece onde tiver preço melhor”, afirma.
Assistente Técnico Estadual da Área de Culturas da Emater/RS-Ascar, Alencar Rugeri, também explica que esse movimento do consumidor de milho gaúcho buscar o grão em outras localidades é uma realidade presente em todos os anos.
“O estado é deficitário em milho, é um dos grandes desafios nossos essa busca pela autossuficiência. Há dois anos, por exemplo, estavamos ao mesmo tempo exportando milho e importando milho, faz parte do contexto do estado”, diz.
Desafios logísticos na importação de milho no RS
Para Sene, apesar de comum, a busca do grão em outras origens deve aumentar nesse ano. “O Rio Grande do Sul é muito importante na cadeia de frangos e suínos e boa parte do milho do estado é usada na ração desses animais. Alterando essa dinâmica natural vai precisar vir mais milho do Paraná, que é mais perto, e do Mato Grosso, que está se desenvolvendo bem e com colheita antecipada. A importação do Uruguai e Argentina também é possibilidade”, aponta.
A preocupação que fica diante do cenário atual do estado é por conta da logística para recebimento deste milho vindo de outras localidades, especialmente diante do estrago provocado em estradas e pontes.
“Essa rotina já existe, mas as chuvas e as enchentes atrapalham mais. O grande impacto será na logística. Uma viagem que costumava demorar 4 horas antes, agora está levando 8 horas. Ainda é cedo para dimensionar esse impacto, não se tem noção do que vai acontecer após essa condição traumática, quanto tempo vai demorar para reconstruir. Então vai ter reflexo, mas ainda não se sabe se será grande ou pequeno”, pontua Rugeri.
Aumento do preço do frete no Rio Grande do Sul pode elevar cotações do milho localmente, sem impacto nacional, segundo Ruan Sene.
“Dentro do estado pode ter um aumento de preço, mas não se sabe se haverá impacto significativo no cenário de preços do Brasil. Outros estados, como Mato Grosso, compensam perdas com produtividades iniciais acima das expectativas, segundo analista.
Fonte: Guilherme Dorigatti | Notícias Agrícolas