Sebo Bovino: uma commodity cada vez mais valorizada

Considerado um dos principais produtores mundiais de proteínas animal, o Brasil, apenas em 2018, registrou o abate de 31.901 mil cabeças bovinas, 44.201 mil cabeças suínas e 5.698.494 bilhões cabeças de frangos, segundo levantamento da Ubrabio – União Brasileiro do Biodiesel e Bioquerosene. a partir de dados do IBGE. Mediante estes dados, constatamos que o país está entre os maiores players mundiais de gordura de origem animal, com uma produção de 1,9 milhão de toneladas, sendo 1,2 milhão de toneladas de sebo bovino. 

Se antigamente este tipo de gordura animal produzida pela reciclagem animal tinha um baixo valor agregado, tendo como principal consumidor a indústria de sabões, hoje a situação mudou. Trata-se de uma importante fonte de lipídios, palatável, altamente energético e composta basicamente de triglicerideos, proporcionando um custo reduzido na formulação de rações (lembrando que o seu uso é proibido na dieta de ruminantes); também é seguro e estável, isento de fatores antinutricionais; uma fonte de gordura estável à temperatura ambiente e uma boa alternativa ao uso de fontes vegetais na produção do biodiesel. Por essas características sua aplicação está muito mais disseminada. Segundo estimativa da ABRA – Associação Brasileira da Reciclagem Animal, atualmente a gordura de origem animal é direcionada para os seguintes mercados: biodiesel (37.1% – no ano de 2018. 28% do biodiesel brasileiro foi produzido usando as gorduras animais como matéria-prima), higiene e limpeza (27.4%), produção animal (26,5%), pet food (5,8%) e demais indústrias (3.2%). Sendo o sebo bovino a segunda matéria-prima mais utilizada na produção do biodiesel, com uma participação de 13,2%, ficando atrás do óleo de soja com 70.1% de participação. 

Caio Torres, broker especialista em gorduras e proteínas animais da Aboissa Commodity Brokers, comemora os resultados das exportações. O preço do mercado interno em baixa durante o primeiro semestre e o aumento do câmbio do dólar foram fatores que ajudaram posicionar a exportação brasileira do sebo bovino como uma alternativa interessante. somado aos preços atrativos praticados por compradores europeus. “Em julho – período em que os preços do mercado interno estavam chegando em seu nível mais baixo – realizamos para a Europa a exportação de mais de 5.000 toneladas à granel do sebo bruto. Entre os principais países compradores do sebo bovino brasileiro nos últimos quatro anos, temos a Holanda (23%) e a Itália (17%) para o mercado de biodiesel; e Nigéria (19%) para o mercado de sabão.” 

O especialista da Aboissa afirma que os desafios em exportar sebo começam com o alto custo interno de logística e as despesas portuárias. “Por se tratar de um produto com valor agregado baixo, qualquer custo extra com questões operacionais pode inviabilizar o negócio.” Caio acrescenta que é importante conhecer a legislação do país do destino e estar habilitado para realizar a operação. Além disso, é imprescindível conhecer o método de análise da especificação do comprador para garantir a qualidade.” 

O consumo interno é também bastante representativo para os negócios da Aboissa. “Houve um aumento do participação do sebo em relação as demais gorduras animais e isso se deve à demanda do setor de biodiesel. Até julho deste ano, a participação do mercado interno de sebo estava em 42%, enquanto no ano passado ficou em 31%”, exemplifica Caio. 

Embora o mercado de biodiesel represente cerca 65% dos negócios totais gerados pelo sebo bovino, na Aboissa o primeiro semestre apresentou condições favoráveis aos compradores de sebo no Brasil para a produção de oleoquímicos. Apesar de promissor, a representatividade das vendas para este setor ficou em torno de 8%. Ainda que seja uma parcela pequena, significou um aumento de 15% em relação ao volume do ano passado. “Existe também um esforço por parte de alguns fornecedores em buscar uma mudança da legislação para a utilização do sebo bovino no mercado alimentício”, lembra. 

Mesmo comemorando os resultados, o corretor não deixa de citar duas grandes dificuldades ao se trabalhar com os produtos de origem animal: o armazenamento e transporte. “Apesar do sebo ser um ativo com especificidades técnicas e físicas, está longe de ser um dos principais produtos dos frigoríficos. Como os subprodutos apresentam um valor agregado relativamente baixo, não há interesse em conduzir um processo rigoroso na armazenagem do despojo para garantir um produto com qualidade estável. A precária condição de estradas também contribui para uma logístico cara e, muitas vezes, inviável para o transporte eficiente nos coletas das graxarias”, analisa. 

Sobre as projeções para o mercado de sebo bovino, segundo o especialista da Aboissa, são boas. “A produção da gordura animal está relacionado com a produção de carne e, para este último, a projeção é de crescimento, ao mesmo tempo em que se prevê uma elevação na demanda do setor de biodiesel. Apenas com esses dois aspectos já teríamos condições favoráveis, mas acrescenta-se a isso, a volatilidade da soja, que exerce influência no preço do sebo bovino. Como a perspectiva da próxima safra de soja é de escassez, consequentemente uma baixa produção do seu óleo, temos a expectativa de um preço do sebo bastante fortalecido”, analisa Caio.

Fonte: Revista Graxaria Brasileira

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