“O mundo não tem um minuto de paz. Há dois anos desde o início da pandemia, o mercado virou de cabeça para baixo e parece que não pretende voltar ao normal tão cedo, primeiro com as restrições da Covid 19, depois a crise de frete internacional e agora que o mercado estava voltando a ficar otimista, jamais imaginaríamos vivenciar uma guerra em plena Europa, o que não ocorria desde a segunda guerra mundial”, disse Muriel Malvasi, Gerente da Unidade Soft Oils da Aboissa.
Os preços do petróleo e dos óleos vegetais já vinham em uma tendência altista pós-pandemia. Além disso, também já tínhamos os impactos causados pela quebra de safra na América do Sul, principalmente da soja, onde Brasil, Argentina e Paraguai tiveram suas previsões de safra reduzidas. ‘’As condições climáticas instáveis, como fortes chuvas, seguidas de longos períodos de seca, acabaram acarretando em uma quebra de produto, que já passa dos 5% quando se fala de soja’’, explicou Laura Pereira, especialista em óleo de girassol.
Com isso, quando a invasão da Rússia na Ucrânia de fato concretizou-se na madrugada desta última quinta-feira, 24 de fevereiro, o mercado parou. A Ucrânia acionou a Lei Marcial, travando primeiro o espaço aéreo do país e, horas mais tarde, os portos. Nesta sexta-feira, recebemos os comunicados oficiais de parada na movimentação marítima dos principais portos do país. Conforme mencionamos acima, o mercado estava voltando a ficar otimista, mas desde ontem voltou com muitas incertezas e especulações travando diversas operações ao redor do mundo.
A Ucrânia é um parceiro sem igual para as commodities e suporta grandes produções em seu território. Como por exemplo, é o sexto maior produtor de milho e cevada do mundo, ao passo que tem um papel importante em outras commodities, sendo o sétimo colocado no ranking de produção de canola. Mas quais produtos que estão compreendidos em seu território estão sendo mais impactados?
Sabe-se que a soja é um das principais commodities que guia a vertente de preços e a Rússia e a Ucrânia são exportadores de peso no segmento, com Ucrânia sendo o nono maior produtor desta cadeia. Com escoamento pelo Mar Negro, eles sempre foram uma boa opção para o mercado asiático, europeu e indiano, pela sua localização e preços competitivos. Entretanto, desde o início dos ataques, os fornecedores pararam com as suas ofertas e todos os embarques já programados foram suspensos temporariamente.
“Algumas empresas locais, parceiras da Aboissa, relataram que as esmagadoras estão fechadas por questão de segurança dos colaboradores e nada será feito até que a situação esteja sob controle”, comenta Tiago Vicente, especialista da Aboissa em óleo de soja.
Compradores que já estavam com receio de comprar os produtos da região agora estão buscando outras origens para suprir as suas demandas. Com isso, a alta nos preços já é algo certo, por exemplo, os futuros de óleo em CBOT aproximaram-se de suas máximas históricas e a China, que é seu principal comprador, viu os preços dispararem após o início dos ataques.
De toda a sua vasta produção, a Ucrânia tem o girassol como seu maior destaque, sendo o maior produtor mundial com mais de 7 milhões de toneladas de óleo em sua safra 2021/2022. Seus principais importadores, China e Índia, também são os maiores importadores de commodities do mundo, tendo uma grande importância quando feita qualquer movimentação de mercado. Existem ainda várias operações de girassol em andamento, isso porque estes mercados são conhecidos por fazer compras substanciais à frente.
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Considerando o momento atual, as ações dos compradores de girassol estão focadas na América Latina, que detém quase 3 milhões de toneladas de óleo de girassol, e a Argentina se torna o alvo de busca por esse produto. Durante a quinta-feira (24), com o mercado parado, foi possível apenas discutir os próximos passos do mercado argentino que se mostra inseguro. “Os maiores produtores da Argentina pararam o mercado, e pretendem se manter assim por algumas semanas, até entender a realidade da situação da Ucrânia, então farão uma grande movimentação no mercado”, complementa Laura.
Mas mesmo com a Argentina auxiliando o mercado, este não está sendo um bom ano, e já prevê uma quebra na safra de girassol do sul de 4%. A alta nos preços está bem clara, considerando a falta de produto no mercado, versus a grande demanda que está por vir.
No mercado de amendoim, conversamos com os nossos parceiros que também enxergam possíveis impactos, na medida que sanções forem impostas à Rússia e que companhias marítimas e bancos forem afetados. ‘’O Brasil exporta amendoim em grãos tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, mas é a Rússia um dos principais mercados consumidores: no ano passado, 39% das exportações foram destinadas a eles’’, explicou Melinda Rodrigues, especialista em óleo de amendoim na Aboissa.
Em meio a este cenário, os exportadores buscam soluções no curto prazo para os seus negócios. ”Cargas que ainda não foram embarcadas vamos aguardar alguns dias. Cargas já despachadas estamos acompanhando com clientes e companhias marítimas qual seria a melhor opção: seguir viagem, aguardar em porto de transbordo ou redirecionamento”, comentou Robson Fonseca, Gerente Comercial da COPLANA.
Em relação aos impactos nos preços, como o amendoim não é precificado em bolsa, é mais difícil entender a repercussão imediata. Já no mercado internacional de óleo de amendoim, existe a influência dos outros óleos. ‘’Entendemos que haverá um aumento nos preços do óleo de amendoim, que já é vivenciado com o incremento da demanda chinesa e dos preços das demais commodities’’, explicou Diego Bracco, Gerente Comercial da Maniagro.
Em suma, o mercado de commodities em geral tem estado muito volátil e por mais que fatores como clima e safras sejam extremamente importantes para a precificação dos óleos vegetais, o cenário geopolítico também o é, tendo o poder de mudar rapidamente o mercado. Não existe outro remédio que a paciência e a calma para entender como o mercado irá reagir daqui para frente, a depender dos desdobramentos da invasão. Sabemos que as próximas semanas serão muito importantes e aconselhamos aos nossos clientes que se mantenham informados, a fim de tomar as decisões mais estratégicas possíveis diante desse cenário.
Por: Aboissa Commodity Brokers | Redação: Equipe Soft Oils da Aboissa