O Brasil e os países africanos têm relações comerciais desde o final do século XX. O Continente Africano tem 55 países e nessas relações comerciais não entram todos os países. Um dos mercados mais significativos é a África do Sul, que integra o BRICS desde 2011. Os países com maior presença na África são China e Índia seguidos de Rússia e Brasil.
Assim como no caso chinês, a atuação das empresas brasileiras em países africanos também está relacionada a segmentos como energia, minérios e construção civil, setores aquecidos no Brasil e em outras nações emergentes, ou ainda nos países subdesenvolvidos que estão passando por algum tipo de modernização estrutural e econômica.
Em 2013 o volume de negócios bilaterais atingiu a cifra recorde de US$ 28,533 bilhões, com exportações brasileiras no valor de US$ 11,087 bilhões e vendas africanas no total de Us$ 17,446 bilhões. Em 2017 foram pouco mais de US$ 14,924 bilhões. Em 2018 o açúcar de cana em bruto foi o principal produto exportado para os países africanos, seguido do açúcar refinado, minérios de ferro, carne bovina e carne de frango. Apesar da forte queda nas exportações globais da África para o Brasil, os embarques de petróleo tiveram um aumento de 46,3% no período janeiro-maio de 2018. Entre as exportações também se destacaram a nafta, hulhas, ureia e adubos.
O Egito é um dos principais destinos. Também se destacam a África do Sul, Argélia, Nigéria e Marrocos.
O Portal Agrolink conversou com o presidente do Instituto Brasil África (IBRAF), João Bosco Monte, para entender o perfil do agronegócio no Continente Africano. Nos dias 12 e 13 de novembro, o IBRAF promoverá o 7º Fórum Brasil África, em São Paulo, com o tema Segurança Alimentar.
Portal Agrolink: a África entrou no Brics em 2011. Como está a relação comercial com o Brasil no que tange ao agronegócio e que pontos desta relação ainda podem ser expandidos/explorados?
João Bosco Monte: os países de língua portuguesa, em especial Moçambique e Angola, têm uma relação importante com o Brasil. Questões de infraestrutura são uma necessidade natural do continente e o Brasil tem muito ainda a colaborar na apresentação de respostas para a infraestrutura básica, mas também geral. Nosso país já demonstrou que pode ajudar nesse trabalho. Agricultura certamente é uma boa alternativa para o Brasil ampliar sua pauta com os países africanos. Mas além da transferência de tecnologia, das sementes melhoráveis, acho que podemos também oferecer soluções em equipamentos, maquinários brasileiros. Os implementos agrícolas chineses, europeus ou americanos não têm a mesma “morfologia” dos equipamentos brasileiros, pois a geografia desses lugares é diferente, já o Brasil parece muito com a África. Portanto, algumas respostas que o Brasil já apresentou podem ser facilmente levadas para o continente africano. A agricultura certamente é o que de melhor podemos apresentar quando comparar o Brasil e o continente africano.
Também temos de lembrar o acordo de livre comércio do continente africano, que deve ter início em janeiro. O Brasil pode, olhando para esse novo capítulo da África, pode se apresentar como um parceiro, seja em iniciativas de negócios ou em investimentos e transferência de tecnologia.
Portal Agrolink: Muito se fala na Ásia como mercado promissor mundial, especialmente, na soja e carne (agora um pouco abalada com a peste suína). Qual o potencial da África perante a economia mundial?
João Bosco Monte: a África tem as áreas mais propensas para cultivo do mundo, diferente da Ásia. O Brasil já mostrou que é possível diversificar suas commodities, e nossas similaridades favorece. Os prognósticos apontam que a África será o local onde a fome pode ser minimizada, pois ali se pode produzir mais alimentos que em qualquer outro lugar do planeta, pela abundância de terras. Existe água em abundância. É possível produzir diversas culturas, dependendo de cada região do continente. Mas, em comparação com a Ásia, as condições na África são mais favoráveis. Outro aspecto é que a África pode produzir para si, mas também pode exportar. Muitas empresas que já produzem em outros locais, começam a olhar para esse continente como um lugar propício para produção, pois possui mão de obra mais barata e um mercado consumidor em expansão. A Nigéria, por exemplo, pode quase que dobrar sua população até 2050.
Portal Agrolink: Como a África observa o agronegócio hoje?
João Bosco Monte: a perspectiva que temos de agronegócio na África é diferente do Brasil. No contexto africano não temos uma capacidade de produção similar ao nosso país, pois a concentração de terras está muito na mão do Estado. O estado detém a maioria das terras, inclusive aráveis. Então a agricultura familiar é o que mantém a produção de grãos. Mas essa realidade pode mudar com o tempo. Há uma perspectiva de que os países modernizem sua legislação e eu advogo para que isso aconteça em breve, para que os produtores tenham interesse em produzir mais. O agronegócio tem a possibilidade de resolver muitos dos problemas do continente africano. Hoje, não fosse o agronegócio, o Brasil não teria o superávit. Isso também pode acontecer com a África. Seja para o mercado interno, seja para a exportação. Por outro lado, há uma situação que o continente ainda vive que é a falta de uma estrutura bem definida. Não adianta produzir se não há onde armazenar o que é feito.
Fonte: Agrolink