Produtores de trigo perderam oportunidades na maior safra brasileira da história

Os triticultores desperdiçaram a melhor safra de trigo da história brasileira por errarem na hora da comercialização, ao não terem feito bem os cálculos de custos versus preços vigentes. A constatação é feita pelo analista sênior da Consultoria Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, segundo o qual “a lucratividade da safra 2016/17 não estava nos preços altos, mas na altíssima produtividade”.

A colheita apresentou resultados entre 70-90 sacas por hectare, contra uma média de 45-55 sacas/ha dos anos anteriores. Multiplicada pelos preços vigentes em outubro (R$ 33,00/saca no RS e R$ 35/saca no PR) a receita por hectare ficava entre R$ 2.310/3.150,00 por hectare, contra um custo ao redor de R$ 1.880/hectare, permitindo, assim, lucros entre 22,87% e 67,55%, conforme a produtividade.

A demora na comercialização gerou custos de armazenagem e financeiros e hoje estes lucros já não são os mesmos. Os principais erros dos triticultores detectados pela Consultoria Trigo & Farinhas foram os seguintes:

a) Não perceberam a chance de fixar preços no mercado futuro entre R$ 50,00-R$ 56,00/saca durante os meses de março a julho de 2015;

b) Não perceberam a chance de fixar preços no mercado futuro entre R$ 40,00-47,00 entre julho/15 e julho/16;

c) Deixaram-se enganar pela comparação dos preços de mercado físico com o Preço Mínimo oferecido (mas não garantido) pelo governo e deixaram de vender no início da safra, quando, mesmo a preços do dia, a grande produtividade ainda apresentava um lucro entre 23% e 67%;

 

d) Diante de uma safra superabundante, os dirigentes, ao invés de tentarem vender os excessos aos moinhos do Nordeste ou para exportação (como fizeram os argentinos, que também tiveram uma supersafra), foram pedir ajuda ao governo, que protelou, protelou e quando colocou recursos à disposição o fez de maneira nitidamente insatisfatória (não usando adequadamente os recursos, que acabaram sobrando – será que este pessoal nunca aprende que o governo não é solução?). Todo o processo de escoamento do excedente foi um vexame, nesta temporada, porque não surtiu nenhum dos efeitos esperados.

 

No entanto, de acordo com a T&F há outros fundamentos por trás disto, que também precisam ser revistos. O principal deles é o custo de produção, que, em nosso país, é muito exagerado. Alguns deles são os seguintes:

1) Praticamente todos os itens utilizados na produção, principalmente insumos, estão sobrecarregados com superfaturamentos sob vários pretextos;

2) Falta de seletividade na produção: todos plantam trigo tipo um e gastam horrores em químicos para atingi-lo, não percebendo as diferentes necessidades do mercado e seus custos menores, que lhes permitiria se não a mesma, até maior lucratividade;

3) O escoamento está truncado por fretes excessivamente caros, por conta de uma política de combustíveis que tem que pagar os rombos e roubos da Petrobras;

4) Não há armazenagem adequada para o trigo durante toda a safra, obrigando os produtores, cooperativas e cerealistas a vender toda a produção antes da hora, para liberar espaços nos armazéns (erro deles mesmos, em parte e, de outra, dos bancos que cobram juros exorbitantes);

 

5) As últimas elevações do ICMS nas vendas interestaduais de trigo nos dois principais estados produtores e os custos de ICMS para o abastecimento e operações dos navios de cabotagem (nada contra cobrar impostos, mas tudo contra isentar estrangeiros desta cobrança, tirando toda a competitividade dos produtos nacionais) tiraram toda a competitividade do trigo nacional versus o importado.

“A cultura do trigo é bem anterior à da soja no Brasil e até forneceu a infraestrutura para que esta se desenvolvesse, mas não teve o mesmo desenvolvimento que a oleaginosa. E sabem qual é o ponto principal desta diferença? A soja é exportada e o trigo, não. O trigo tem mais usos internos do que a soja, um consumo até maior, mas ele não tem alternativa de comercialização, via exportação, como a soja. Isto porque seus custos são excessivamente caros (o que significa que podem ser reduzidos), os riscos climáticos muito altos (o que significa apenas que estamos plantando mais na região errada do que na região certa) e nenhum conhecimento de mercado futuro, que permitiria garantir e aumentar a lucratividade do setor”, conclui Pacheco.

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