O biodiesel apresenta-se como uma alternativa sustentável ao diesel convencional, derivado de fontes fósseis como o petróleo, que, sendo uma reserva finita e limitada, contrasta com as fontes renováveis utilizadas na produção de biodiesel. Estas últimas incluem a palma, o milho, a soja e notavelmente o óleo de cozinha usado (UCO). De acordo com Lucas Gois, especialista em fontes de energias renováveis da Aboissa, este último destaca-se pelo seu potencial de reutilização, contribuindo significativamente para a redução da poluição ambiental, dado que 80 a 90% do óleo de cozinha é descartado de forma incorreta.
A conversão do UCO em biodiesel implica a remoção de impurezas e umidade, adequando-o para a produção de combustível. Este processo não só resolve o problema do descarte inadequado de óleo, mas também promove a economia circular, gerando empregos e integrando diferentes segmentos da cadeia produtiva. A recuperação e tratamento do UCO abriram novos negócios e geraram empregos, indicando a importância de sistemas de coleta eficazes para maximizar o uso desse recurso renovável.
No Brasil, a adoção do biodiesel tem seguido um ritmo gradual. Instituído durante o governo do ex-presidente Michel Temer, um programa governamental previa um aumento escalonado na mistura de biodiesel ao diesel convencional, começando com 10% (B10) com previsão de alcançar 15% (B15) até 2024. Contudo, a pandemia de COVID-19 atrasou essa progressão, mantendo a mistura no B10 devido à priorização da produção de alimentos em detrimento do biodiesel e à diminuição do uso de veículos durante o período pandêmico.
Avanços do biodiesel nos EUA e potencial no Brasil
Nos Estados Unidos, a indústria do biodiesel também tem avançado com a produção de HVO (óleo vegetal hidrotratado) e SAF (combustível de aviação sustentável), demonstrando um movimento global em direção a produtos com apelo sustentável. A preferência é por utilizar resíduos, como o UCO, em vez de competir com recursos destinados ao setor alimentício, ressaltando uma abordagem que evita a competição entre alimentos e combustíveis.
A recuperação pós-pandêmica e a consequente retomada da produção agrícola, especialmente de soja, indicam a possibilidade de alcançar a meta de B15 e potencialmente objetivos mais ambiciosos, como B20. Esta progressão é essencial para diminuir a dependência de diesel importado e fortalecer a economia local, apoiando pequenos agricultores e criando oportunidades de emprego no meio rural.
O biodiesel também oferece vantagens ecológicas substanciais. Sendo menos poluente que o diesel de origem fóssil e biodegradável, em caso de vazamentos, decompõe-se naturalmente, evitando danos significativos ao meio ambiente. Estes benefícios destacam o biodiesel como um vetor de políticas de sustentabilidade cada vez mais valorizadas globalmente.
A política do biodiesel muitas vezes parece esquecida diante da predominância do petróleo no Brasil. Contudo, a mudança de mentalidade em relação ao meio ambiente, que agora valoriza cada vez mais a sustentabilidade, sugere que o biodiesel tem um papel crucial no futuro energético do país. A indústria do biodiesel, com seu potencial de gerar combustíveis sustentáveis que não competem com o setor alimentício, alinha-se com os objetivos globais de sustentabilidade e mostra que o Brasil pode reforçar sua independência energética e econômica, fortalecendo sua posição no mercado global de energias renováveis.
Entrevista com Lucas Gois | Especialista em Oleoquímicos
Por Vanessa Ferreira