O mercado pecuário brasileiro está cada vez mais alinhado entre as diferentes regiões, com os preços da carne e do boi gordo se movimentando de forma similar em todo o país. No entanto, o Rio Grande do Sul ainda apresenta características particulares, influenciadas tanto pelo clima quanto pela dinâmica de mercado. A retirada da vacinação contra a febre aftosa, aliada à crescente capacidade das indústrias de trazer gado vivo e carne de outros estados, tem equilibrado os preços locais. Mesmo assim, a correção de valores no mercado nacional tem ocorrido de forma mais rápida.
Exportações e demanda interna alavancam preços
Segundo Juliano Severo Leon, representante da Comissão de Relacionamento com o Mercado do Instituto Desenvolve Pecuária, dois fatores estão impulsionando os preços da carne bovina: o aumento nas exportações e o fortalecimento da demanda interna. A China, em especial, tem aumentado o volume de compras e pagando um valor maior pela carne brasileira. Em outubro de 2024, as exportações cresceram 25% em relação ao mesmo período de 2023. “Esses números desenham um bom ritmo até o final do ano”, destaca Leon.
No mercado interno, o crescimento do poder de compra da população, impulsionado por estratégias governamentais em um ano pré-eleitoral, também contribuiu para a elevação dos preços da carne bovina. Contudo, Leon alerta para o risco de perda de competitividade frente a outras proteínas, como o frango, à medida que os preços da carne bovina se distanciam dos demais. “Entramos na segunda quinzena do mês, quando as vendas tendem a enfraquecer naturalmente, o que pode pressionar os preços”, explica Leon.
Impacto das condições climáticas no Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, os produtores enfrentam condições climáticas adversas desde o início do ano, o que afetou a oferta de gado de qualidade. Com a redução da entrada de carne de outras regiões, as indústrias locais estão mais dependentes dos produtores gaúchos. “O mercado local está acompanhando a alta de preços de outros estados, especialmente devido à escassez de animais prontos para abate”, afirma Leon.
Aumento nos preços de reposição e oferta limitada de fêmeas
Os preços de reposição também estão subindo, embora em ritmo mais lento do que os do gado gordo. A saída de gado das pastagens resultou em uma oferta pontual, e confinadores e invernadores estão dispostos a pagar valores mais altos, apostando na perspectiva de melhoria futura nos preços de venda. “Não acredito que a correção de preços na reposição seja tão rápida quanto no gado gordo, mas esse ajuste acontecerá gradualmente”, ressalta Leon.
Outro fator destacado por Leon é a menor oferta de fêmeas no mercado, reflexo de uma inversão no ciclo pecuário. Essa escassez, juntamente com a baixa disponibilidade de novilhos de qualidade, aumenta a expectativa de manutenção dos preços elevados no mercado gaúcho nos próximos meses. “A partir de 20 de novembro, com a entrada da parcela do 13º salário, a demanda no mercado interno tende a ganhar força. Isso pode sustentar o otimismo atual”, prevê Leon.
Cautela com a capacidade de consumo
Apesar das perspectivas otimistas, Leon adota uma postura de cautela. “Há uma preocupação sobre até que ponto o consumidor suportará a alta dos preços da carne. Essa é uma questão importante que precisa ser monitorada de perto”, conclui.
Assim, o mercado de bovinos no Rio Grande do Sul segue valorizado, com expectativas positivas para o final do ano, impulsionado pela demanda externa e interna, e pela baixa oferta de gado para abate.
Fonte: Notícias Agrícolas