Na avaliação do analista sênior da Consultoria Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, houve significativas mudanças no mercado mundial do trigo. O especialista aponta que surgiram novos fundamentos para a temporada 2016/17:
1. A Rússia e não os EUA são os maiores exportadores mundiais de trigo: na safra 2000/01 os EUA detinham 32% de share no mercado mundial de trigo e a Rússia apenas 4%, mas ela fez um programa para aumentar sua participação até 2020/21 que, já em 2015/16, atingiu o seu objetivo: hoje a Rússia detém 16% do mercado mundial de trigo, contra 13% dos EUA. Se forem adicionados os países do Mar Negro (Ucrânia e Romênia), esta região detém um total de 31%, o mesmo que os EUA detinham nos anos 90, tornando-a a mais importante a ser considerada no mercado mundial.
2. A Rússia é que faz os preços do trigo no mundo, não mais Chicago: Com seu poder de penetração nos principais mercados mundiais a Rússia determina os preços vencedores das grandes licitações, impondo o seu preço (ao redor de US$ 162/t FOB nesta sexta-feira) como base das negociações no mercado mundial. A primeira consequência disto é o aumento dos estoques de trigo americano (de 16MT para 20,5MT e depois para 27MT nas três últimas safras), por falta de competitividade e escoamento de exportação e consequente queda das cotações em Chicago e Kansas City a níveis mais baixos do que há 10 anos.
3. A força do Mar Negro, porém, fica reduzida aos meses entre julho e dezembro, quando congela o Mar de Azov, por onde são escoadas as suas exportações. Entre dezembro e março e até junho, quando termina a colheita russa de inverno, abre-se espaço para outros exportadores mundiais que tenham igual qualidade e competitividade.
4. A Argentina se encaixa no período pós Mar Negro e deverá encontrar escoamento para boa parte do seu excedente para fora do Mercosul nesta temporada. Isto significa que os seus preços não deverão cair tanto quanto se espera. O problema é que, quando “saiu” do mercado internacional há 12 anos a Argentina tinha apenas 3-4 concorrentes e agora são 18 os países exportadores.
5. O principal condutor dos preços da temporada 2016/17 será a qualidade, já que houve deterioração deste ítem nas safras do trigo hard dos EUA e nas de trigo soft da França, Alemanha e parte da safra da Rússia. Se, por um lado, haverá mais trigo físico no Mundo, por outro haverá menos trigo de alta proteína disponível. Como consequência, aumenta o prêmio por qualidade (a diferença entre os prêmios de trigo hard e soft no Golfo já é de 50 cents/bushel) para quem pode fornecê-la. Embora ela não tenha a mesma força dos estoques, será um fator determinante na alta dos preços nesta temporada.
6. Entre 2013/14 e 2015/16 a produção mundial cresceu 3,6% e o consumo 4,7%, isto é, o consumo está crescendo mais do que a produção por razões demográficas e também estimulado pelos baixos preços. Qualquer anúncio de redução na oferta ou de área plantada devido aos preços baixos poderá ser fator de alta imediata.
7. A França deixará de exportar 9 milhões de toneladas nesta temporada, devido à forte queda de produção e de qualidade da sua safra, mas a maneira como será feita a sua substituição junto aos mercados que lhe são tradicionais não está ainda bem definida, nem será pacífica e este poderá ser um fator de alta nos preços a curto e médio prazos, porque a concorrência em 2016/17 será feroz!