O Brasil importou menos combustíveis em 2023, de acordo com análises da consultoria StoneX com base nos dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em um claro reflexo de aumento da produção interna, já que a demanda é firme. No diesel, foi importado 8,8% menos do que em 2022, com 14,71 bilhões de litros, ainda assim o segundo maior volume da série histórica. A gasolina teve volume importado 8,2% menor (4,16 bilhões de l).
Apenas no mês de dezembro, foi importado 1,91 bilhão de litros de diesel pelo Brasil, possivelmente em uma antecipação de compras das refinarias antes da reoneração dos tributos federais sobre o diesel A (sem adição de biodiesel).
Bruno Cordeiro, analista de energia da StoneX, explica que as menores importações de combustíveis em 2023 pelo Brasil refletem exatamente uma ampliação da produção de diesel A pelas refinarias do país, essencialmente as que são da Petrobras. Além disso, em março do ano passado, o governo decidiu elevar a mistura de biodiesel no diesel de 10% para 12%, o que também influenciou no mercado diesel, especificamente.
“Temos fatores em comum ao diesel e gasolina em 2023, como o aumento da produção brasileira, principalmente por conta dos esforços da Petrobras, com refinarias na máxima capacidade. Além disso, especificamente ao diesel, tivemos a maior mistura, o que naturalmente gera menor demanda por diesel A. E, na gasolina, a paridade abaixo de 70% sobre o etanol, elevou as compras do biocombustível, que ficou mais competitivo nas bombas”, destaca Cordeiro.
Avanço no mercado de biocombustíveis no Brasil
As vendas de etanol hidratado, inclusive, saltaram cerca de 4,5% em 2023 ante 2022, e voltaram a subir depois de três anos em queda no país, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A redução das importações ocorreu devido ao aumento na produção nacional de óleo diesel, impulsionado pela maior utilização das refinarias. O volume importado caiu de 41,78 para 43,90 milhões de litros até novembro. O aumento do biodiesel no diesel reduziu a importação de diesel e aumentou a de metanol, segundo Sergio Araujo, presidente da Abicom.
A Aprobio informa que as empresas de biocombustíveis entregaram 7,34 bilhões de litros de biodiesel às distribuidoras no ano passado, um recorde. Isso representa um aumento de cerca de 20% em relação a 2022. “Estamos prontos para avançar até pelo menos B20. Isso beneficiará grandes centros urbanos no curto prazo, sem alterar motores ou custos em infraestruturas de abastecimento”, diz Julio Cesar Minelli, diretor superintendente da Aprobio.
Petrobras destaca recordes
Dados da Petrobras reiteram a análise da StoneX. A companhia aponta que a produção de diesel S-10 atingiu recorde mensal em outubro de 2023 em 2,38 bilhões de litros, superando a marca anterior de julho. As refinarias da companhia atingiram em setembro 97% de utilização pelo segundo mês consecutivo. O fator de utilização das refinarias chegou a 96% no terceiro trimestre de 2023, o melhor resultado trimestral desde 2014.
Apesar disso, é consenso entre os envolvidos no mercado que o Brasil seguirá dependente da importação de parte de sua demanda. “O Brasil continuará dependente da importação do óleo diesel por muitos anos ainda. O consumo tem forte correlação com o PIB e a expectativa é de crescimento nos próximos anos. Acreditamos que as refinarias já atingiram os valores máximos nas taxas de utilização e, portanto, não deverão oferecer volumes maiores que em 2023”, explica Araujo.
A Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, retomou obras de ampliação em 2024 após 8 anos de paralisação no litoral sul do estado. Na visão da Abicom, ela poderá elevar a produção de óleo diesel pela Petrobras. A produção de óleo diesel aumentará até 2028, porém não suprirá o aumento da demanda, diz executivo da associação.
Maiores compras da Rússia
Historicamente, os Estados Unidos são o principal fornecedor de diesel ao Brasil. Porém, em 2023, esse cenário mudou, com a Rússia liderando o mercado no país, com mais de 50% do total importado. O Brasil obteve descontos no diesel russo devido ao embargo europeu devido à guerra na Ucrânia. Isso beneficiou o país em relação a outras fontes de diesel.
“A gente viu em 2023 uma mudança estrutural nas importações de diesel. A Rússia é nosso principal fornecedor de combustível, e somos o segundo maior comprador depois da Turquia. Esse padrão deve continuar em 2024, segundo Cordeiro.
Vendas de combustíveis cresceram em 2023
Apesar das menores importações de combustíveis em 2023, as vendas cresceram no último ano. Segundo dados prévios divulgados pela ANP e analisados pela StoneX, o consumo de diesel B (com mistura de biodiesel) foi recorde no país, em 65,50 bilhões de litros, 3,56% acima de 2023. No caso da gasolina C, as vendas totalizaram 46 bilhões de l no ano passado (+6,90%). A ANP trará os dados consolidados de 2023 no final deste mês.
Nas análises da consultoria, o alto consumo de combustíveis fósseis no país acompanhou o positivo desempenho econômico, além de alta na produção de grãos, o que elevou a demanda por fretes na primeira metade do ano.
Perspectivas para 2024
Em 2024, a StoneX prevê que as importações de diesel A permanecerão altas devido à dependência do país do refino externo, já que suas refinarias estão no limite de capacidade. Ao mesmo tempo, o consumo de diesel B deve atingir um recorde de 66,50 bilhões de litros, superando 2023.
“A demanda por diesel deve crescer, mas a gente tem uma situação de novo aumento da mistura no diesel e isso deve fazer com que a gente tenha crescimento exponencial de biodiesel neste novo ano. Mesmo com esse crescimento, esperamos que o mercado consiga se equilibrar para que toda a oferta venha do mercado doméstico”, explica o analista da consultoria StoneX.
Fonte: Jhonatas Simião | Notícias Agrícolas