Imagem: Pixabay
A escassez de contêineres e seus impactos nas exportações brasileiras foi um dos temas centrais da 64ª Reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e seus Derivados, realizada nesta quinta-feira (23) de forma virtual. O gargalo logístico global vem se refletindo no atraso dos embarques da pluma e a previsão é de agravamento da situação.
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Miguel Faus, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), definiu o cenário atual como caótico. “A situação está complicada e não vemos solução no curto ou médio prazo. A consequência, para o nosso negócio, é o ritmo mais lento de exportação que vamos observar nos próximos meses”, avaliou. Segundo ele, a previsão, para a temporada comercial 21/22, é de embarques da ordem de 1,8 milhão de toneladas, mas o número pode ser revisto para baixo, em função das circunstâncias.
As dificuldades logísticas também se refletem na redução geral do Basis. “O custo e o tempo de levar o algodão da origem até o destino aumentou, e isso tem que se refletir de alguma forma nos basis. Existe uma pressão de ambos os lados e o mercado vai se ajustando de alguma forma”, ponderou.
Representando a Associação Mato Grossense dos Produtores de Algodão (AMPA), o economista e consultor de logística Luiz Antonio Pagot informou as medidas que vêm sendo tomadas desde outubro de 2020, na busca de soluções para o gargalo nos portos – entre elas, a criação de um grupo de trabalho no âmbito do Instituto Pensar Agro (IPA) e a articulação com o Congresso e o governo federal. “O que se pode constatar é que a situação se agrava. Além da falta de contêiners, tem o problema da falta de escala de navios”, alertou.
Pagot lembrou que o quadro atual é resultado de questões conjunturais, como problemas no Canal de Suez e nos portos asiáticos e a priorização de embarques para o Hemisfério Norte. “Nos últimos 120 dias, os armadores começaram a fazer um enxugamento de contêineres na América do Sul e direcionando para a China, tendo em vista o extraordinário preço que alcançou o frete”, relatou. Na última semana, o frete do contêiner da China para os Estados Unidos, que custa normalmente US$ 2 mil, chegou a U$ 26 mil, influenciado pelas grandes compras americanas para o Natal. “Vamos intensificar as ações e trabalhar com o governo para estabelecermos um plano de contingência. Sabemos que há uma crise mundial, mas temos a consciência de que estão privilegiando outros mercados”, ressaltou.
Temporada 20/21 de exportações
Durante a reunião, o diretor de assuntos internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte, fez um balanço do ano comercial 20/21. Entre agosto de 2020 e julho de 2021, o Brasil exportou 2,4 milhões de toneladas de algodão, 23% a mais do que no ciclo anterior, concretizando um novo recorde de embarques.A China foi o principal destino da fibra brasileira, responsável por 30% do total exportado, seguida de Vietnã (17%) e Paquistão (12%).
“Em todos os mercados o Brasil tem apresentado crescimento importante nos últimos anos devido ao aumento da produção e da eficiência nas exportações”, ressaltou.
Nos últimos 10 anos, as exportações brasileiras de algodão têm crescido 19% ao ano, enquanto a média mundial é de 3,3%. Na temporada 20/21, a participação do Brasil no mercado internacional da pluma foi de 23%, atrás apenas dos EUA, com 34%. “Vamos ser os maiores exportadores de algodão num curto espaço de tempo e, no longo prazo, seremos o maior produtor mundial pelo potencial e pelos agricultores que temos”, afirmou o presidente da Abrapa, Júlio Busato.
Relatório de Safra
As associações estaduais, vinculadas à Abrapa, apresentaram os dados finais da safra 20/21, praticamente encerrada. Com 99% da safra 20/21 colhida e 44% beneficiada até o dia 16 deste mês, a produção foi atualizada para 2,32 milhões de toneladas. Devido aos desafios climáticos impostos desde a semeadura do algodão, a produtividade estimada do ciclo que está terminando é de 1.708 Kg/hectare, 5,2% inferior à alcançada na temporada 2019/2020. O melhor desempenho foi registrado no Piauí, com 2048 Kg/ha, seguido de Mato Grosso do Sul (com o recorde histórico de 1979 kg/ha), Bahia (1938 kg/ha) e Maranhão (1816 kg/ha)
Para a próxima safra, a Abrapa prevê uma área plantada de 1,53 milhão de hectares – aumento de 12,6% em relação ao ciclo anterior, que totalizou 1,36 milhão de hectares. “Voltamos a um milhão e meio de hectares e tomara que seja ainda um pouco melhor. Vamos torcer para que venha a chuva no Mato Grosso e tenhamos mais área de algodão lá”, disse Júlio Busato. Com a recuperação da área, a produção de pluma deverá voltará a subir. Após recuo na temporada 20/21, o volume projetado para a safra 21/22 é de 2,79 milhões de toneladas.
A próxima reunião da Câmara Setorial está marcada para 8 de dezembro. O colegiado, presidido pela Abrapa, reúne todos os elos da cadeia têxtil.
Por: Dylan Della Pasqua | Safras & Mercado