A China, maior compradora mundial de oleaginosas, atingiu um volume recorde de importação de soja em 2024, em meio às crescentes tensões comerciais entre EUA e China. Segundo dados alfandegários divulgados nesta segunda-feira, o país importou 105,03 milhões de toneladas do grão, registrando um aumento de 6,5% em relação ao ano anterior.
Esse marco histórico foi impulsionado por fatores como a queda dos preços da soja na Bolsa de Chicago, margens atrativas de esmagamento e uma corrida dos compradores para garantir estoques antes da posse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Trump, que assumirá o cargo em 20 de janeiro, já sinalizou a possibilidade de implementar tarifas comerciais severas, aumentando os receios de uma guerra comercial.
Importações de dezembro: Baixa surpreende analistas
Apesar do recorde anual, as importações de dezembro ficaram em 7,94 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 0,2% em comparação ao mesmo período de 2023. Consequentemente, esse volume foi o menor em quatro anos e ficou significativamente abaixo das estimativas iniciais de analistas, que projetavam cerca de 8,2 milhões de toneladas.
De acordo com Rosa Wang, analista da JCI, uma agroconsultoria com sede em Xangai, “essa discrepância pode estar ligada ao ritmo do desembaraço aduaneiro”.
Entretanto, nos últimos meses de 2024, compradores chineses deram prioridade à soja dos EUA, mesmo que a soja brasileira apresentasse preços mais competitivos. Portanto, essa estratégia visava proteger-se contra possíveis sanções comerciais que poderiam impactar o comércio entre os dois países sob o governo de Trump.
Impactos das tensões comerciais no setor
Trump prometeu impor tarifas de até 60% sobre produtos chineses, o que, segundo especialistas, pode gerar retaliações de Pequim e perturbar o comércio internacional. Diante dessa incerteza, comerciantes chineses têm diversificado seus fornecedores e ampliado estoques estratégicos.
Entretanto, mesmo sem uma guerra comercial, o cenário para 2025 pode ser desafiador. A ampla oferta global e margens de esmagamento enfraquecidas indicam uma possível redução na demanda de soja dos EUA.
“A presidência de Trump pode reacender tensões comerciais, mas o declínio esperado na demanda chinesa ajudará a minimizar impactos sobre os preços”, afirmou a BMI Research em nota.
As margens de esmagamento em Rizhao, principal polo de processamento de soja da China, têm sido negativas desde novembro. Em dezembro, a última margem registrada foi uma perda de 225,04 iuanes (cerca de 30,69 dólares) por tonelada processada.
O recorde de 2024 pode ter sido um esforço preventivo em um cenário global incerto. Agora, o mercado aguarda os próximos passos da nova administração dos EUA e as respostas da China às possíveis tarifas.
Fonte: Ella Cao e Mei Mei Chu | Noticias Agrícolas