O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira que o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia só não foi concluído ainda porque o bloco europeu não conseguiu resolver suas questões internas.
“Só não concluímos o acordo com a União Europeia porque os europeus ainda não conseguiram resolver suas próprias contradições internas”, disse Lula à cúpula de chefes de Estado do Mercosul, em Assunção, ao falar sobre as conquistas do bloco sul-americano durante a presidência do Brasil no ano passado.
O acordo entre UE e Mercosul vem sendo negociado há mais de 20 anos. Em 2019, os blocos chegaram a assinar uma versão, que não foi ratificada em meio à difícil relação do governo Jair Bolsonaro com os europeus, ao aumento do desmatamento e ao não cumprimento de regras ambientais pelo Brasil.
As negociações foram reabertas em março de 2023, mas geraram novos embates. De um lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a criticar o bloco europeu pelas exigências ambientais.
Tensões no Mercosul: Desafios e resistências
De outro, o presidente francês Emmanuel Macron se tornou uma voz cada vez mais frequente contra o acordo, em meio a protestos de agricultores locais, que se opõem à entrada de produtos agrícolas da América do Sul na França.
Na cúpula desta segunda-feira, Lula comentou e o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, criticou o desejo de alguns líderes europeus de reiniciar as negociações com o Mercosul do zero.
“Não parece lógico após 25 anos”, disse ele, cujo país assume a presidência rotativa do bloco sul-americano a partir desta segunda-feira.
“Não sei se são eleições europeias, mudanças atuais, governantes, ou grupos de pressão que dificultam o progresso,” acrescentou.
Desde o início da presidência paraguaia no Mercosul, em dezembro, as negociações pelo acordo estão paralisadas.
Após as eleições para o Parlamento Europeu em junho, houve um aumento de partidos de extrema-direita na Alemanha, França e Itália. Partidos de extrema-direita na Europa defendem protecionismo e apoio aos agricultores diante da crise de custo de vida.
Alerta aos democratas
Em seu discurso na cúpula, Lula também alertou que os membros do bloco precisam estar “vigilantes” diante de ameaças às instituições democráticas dos países da região, mencionando a tentativa de golpe de Estado na Bolívia em 26 de junho e o ataque às sedes dos Três Poderes em Brasília no ano passado.
“A reação ao 26 de junho na Bolívia e 8 de janeiro no Brasil mostra que não há atalhos para a democracia na região. Mas é preciso permanecer vigilantes. Falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários”, disse Lula.
O presidente destacou que o bloco enfrenta desafios regionais e globais, questionando se os membros optarão por união ou divisão. Ademais, Lula também exaltou a adesão plena da Bolívia ao bloco pelo “enorme valor estratégico”.
Ele descreve o Mercosul como plataforma de inserção internacional do Brasil, criticando estratégias ultraliberais e o nacionalismo isolacionista.
A cúpula desta segunda-feira não contou com a presença do Javier Milei, que tem trocado farpas com Lula desde que tomou posse, em dezembro. O presidente ultraliberal argentino esteve no Brasil no fim de semana para um evento conservador e se reuniu com Bolsonaro.
Fonte: Fernando Cardoso e Daniela Desantis | Notícias Agrícolas