
Apesar da elevação das import tariffs de 36,4% para a carne bovina brasileira, os Estados Unidos devem continuar comprando carne bovina do Brasil. Os Analistas apontam que o mercado brasileiro pode ter possíveis efeitos indiretos positivos e pode abrir espaço para a carne brasileira em países asiáticos como Japão, Coreia do Sul e ampliar a presença na China.
De acordo com o Analista de Mercado da Safras & Mercado, Fernando Henrique Iglesias, os americanos têm uma demanda aquecida por carne bovina aliada a uma oferta restrita no País, o que deve mantê-los comprando volumes significativos do Brasil, mesmo com preços mais elevados.
“Apesar dos valores mais altos, os americanos devem continuar importando carne bovina brasileira por estarem na pior posição de rebanho desde anos 1950 e a produção de carne norte-americana deve cair nesta ano”, informou o analista ao Notícias Agrícolas.
Cenário comercial e competitividade brasileira
Em comunicado, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) destacou que a carne brasileira já é taxada em 26,4%, com uma cota inicial isenta de 65 mil toneladas, compartilhada entre 10 países. Essa cota, que é anual, costuma se esgotar logo no primeiro mês do ano. Mais de 70% do que exportamos no ano passado entrou com a tarifa.
O analista da Scot Consultoria, Alcides Torres, informou que mesmo com as tarifas compensa para os americanos pagarem para importar a carne brasileira. “Atualmente, os Estados Unidos é o segundo maior comprador de carne bovina brasileira, mas qualquer redução nas compras por parte dos americanos deve trazer muitos impactos ao setor”, destacou ao Notícias Agrícolas.
A ABIEC acredita num estreitamento da parceria com EUA que enfrentam desafios no ciclo pecuário e, por pelo menos dois anos, precisarão de quem possa garantir volume, qualidade e preço — e esse parceiro é o Brasil.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a produção de carne bovina americana deve somar 11,81 milhões de toneladas em equivalente carcaça em 2025. Esse volume representa uma queda de 3,96% em relação a 2024.
Riscos comerciais e reações asiáticas
Os Estados Unidos passam por um cenário de inflação, em que os preços das proteínas animais estão bem elevados. De acordo com as informações da Reuters, os preços do varejo dos EUA para carne moída atingiram um recorde de US$ 5,67 por libra em setembro/24 e subiram 42% em relação ao valor de quatro anos atrás.
O Diretor da HN AGRO, Hyberville Neto, ressaltou que também é importante acompanhar como será o comportamento do consumidor americano. As tarifas devem encarecer ainda mais os preços das carnes no País. “O mercado também precisa ficar atento como isso pode impactar a demanda doméstica no País e até que valor o consumidor americano vai aceitar pagar pela proteína”, comentou.
Os analistas apontam que é importante acompanhar como os demais países devem se comportar. Também é necessário observar se esses mercados buscarão outros fornecedores para atender à demanda. Esse pode ser o caso de países como Coreia do Sul, Japão e China.
Rearranjos no comércio internacional
“Ainda não sabemos como será o comportamento de alguns países com o tarifaço dos Estados Unidos. O mercado está no aguardo para ver se Japão e Coreia do Sul vão impor sanções mais duras, como é o caso da China. Outros parceiros comerciais dos Estados Unidos devem adotar medidas parecidas com as da potência asiática. Isso pode aumentar a demanda por commodities brasileiras”, ressaltou o analista da Safras & Mercado.
As informações do site Beef Central apontam que as tarifas retaliatórias da China aos Estados Unidos devem impactar, diretamente, os embarques mensais de carne bovina dos EUA para a China. Andrew McDonald, da Bindaree Food Group, afirmou ao portal que esse cenário abre uma oportunidade para outros fornecedores. Países como Austrália, Brasil, Argentina e Nova Zelândia podem aumentar suas exportações de carne bovina para o mercado chinês.
Ainda de acordo com as informações do Beef Central, os compradores americanos haviam pausado os pedidos na última semana, enquanto aguardam o resultado da ação tarifária de Trump. McDonald destacou que o anúncio da tarifa renovou o interesse dos chineses na carne bovina australiana. Ele também apontou que a demanda na Ásia está aumentando.
Perspectivas e incertezas futuras
De acordo com a avaliação da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o Brasil estará em uma posição melhor. Isso se deve à comparação com os casos em que os EUA importam produtos de mercados que contarão com taxas maiores. É o caso, por exemplo, dos bens da União Europeia, que receberão sobretaxas de 20%.
Ainda há potencial de perda de mercado com relação a produtos produzidos pelos EUA e fornecidos internamente, mas que necessitam de complementação por meio de importações. É o caso da carne bovina. A produção local alcança 12,3 milhões de toneladas, enquanto o consumo atinge 13 milhões de toneladas. O mesmo ocorre com o óleo de soja, entre outros produtos, nos quais o consumo fica próximo da produção”, reportou.
No entanto, a entidade alertou, contudo, que ainda é cedo para calcular as perdas definitivas. O cenário ainda está em construção e depende de vários fatores. Entre eles, destacam-se a evolução das negociações diplomáticas e o comportamento do mercado internacional.
Embarques Brasileiros
Segundo as informações divulgadas pela ABIEC, no acumulado de janeiro a março deste ano, as exportações totalizaram 676 mil toneladas. A receita gerada foi de US$ 3,22 bilhões. Os principais mercados no trimestre foram: China, com 284,6 mil toneladas, representando 42,1% do total exportado; Estados Unidos, com 88 mil toneladas (13,0%); Chile, com 30,5 mil toneladas (4,5%); Hong Kong, com 24,1 mil toneladas (3,6%); e União Europeia, com 22,4 mil toneladas (3,3%).
Ainda segundo a Associação, os Estados Unidos ganharam relevância. Houve um aumento expressivo de 56,3% em volume, totalizando 42,1 mil toneladas. Em valor, a alta foi de 53%, alcançando US$ 225,5 milhões em relação ao mês anterior.
Source: Andressa Simão | Notícias Agrícolas