As colunas de fumaça sobre Apuí, no sul do Amazonas, podem ser vistas a alguns quilômetros de distância, em meio ao verde fechado da floresta amazônica, em um sinal de que as queimadas e o desmatamento voltaram a dominar a região. Os sinais da devastação feita pelo fogo estão por toda a cidade, dos caminhões levando toras de madeira nobre pelas estradas ao fogo que contamina o ar na cidade, irrita olhos e narizes.
A pequena cidade de 21 mil habitantes está no centro do recrudescimento das queimadas e do desmatamento na região amazônica. O boletim de focos de queimadas preparado pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Amazonas coloca Apuí em primeiro lugar na primeira semana de agosto. As vizinhas Manicoré, Novo Aripuanã e Humaitá estão entre os 10 primeiros. A região é a base da operação Onda Verde, que desde o dia 22 de julho –e durante um mês– levou agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e agentes da Polícia Militar Ambiental do Amazonas a buscar e destruir acampamentos, multar desmatadores, recolher equipamentos.
Veja um ensaio fotográfico em reut.rs/2v5kkU0 Alguns dias depois dos agentes deixarem Apuí, os desmatadores voltaram a atuar. “É quase como enxugar gelo. Alguns se assustam, não voltam. Mas são os laranjas. Os grandes nem estão aqui”, disse à Reuters uma funcionária da fiscalização que preferiu o anonimato por temer ameaças.
Perto da divisa com Rondônia, a região sul do Amazonas — Estado que, de acordo com a ONG WWF, era um dos menos afetados pelo desmatamento– tem sofrido os efeitos da abertura da Rodovia Transamazônica e do avanço do arco do desmatamento em busca de novas terras para pastagem. “Essa região do sul do Amazonas não estava inserida da área de alto controle. Faz uns 120 dias que observamos um pico muito alto no desmatamento”, disse à Reuters o agente do Ibama Jaime Pereira da Costa, coordenador da operação.
Fugindo da fiscalização, madeireiros têm vindo de Mato Grosso e Rondônia para desmatar na área. “O madeireiro migra, fugindo da fiscalização. É o primeiro a chegar. Primeiro vem a especulação madeireira, depois vem a pecuária e depois a soja e outras plantações. Aí fica difícil de segurar”, disse. As queimadas que podem ser vistas em toda parte são a segunda etapa de uma economia predadora que começa com a retirada e venda de madeira de lei. Sem ter mais o que tirar, os madeireiros tocam fogo na mata e vendem a terra ilegalmente para pastagem.
A abertura de novas frentes de desmatamento já aparece nos dados do governo. Depois de chegar a seu índice mais baixo em 2012, com 4.571 quilômetros quadrados, o desmatamento na Amazônia Legal voltou a subir já no ano seguinte. De acordo com dados do Prodes, o sistema de monitoramento por satélite, as áreas desmatadas subiram 29 por cento entre 2015 e 2016, chegando a 7.989 quilômetros quadrados. Os dados do último relatório do Deter –outro sistema de monitoramento por satélite, menos preciso, mas que revela pontos de atenção mês a mês– apontou que, em junho, 1.045 quilômetros quadrados da Amazônia estavam sob alertas para degradação da área florestal.
O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, afirma que registros do ministério indicam que o desmatamento voltou a cair. Os dados do Prodes 2016/2017 só devem sair em novembro, mas os números preliminares indicariam uma reversão da tendência. “São dados preliminares, mas tudo indica que a curva está caindo. Estamos otimistas”, afirmou. O ministro garante que o governo voltou a investir pesadamente em operações, como a Onda Verde.
/Lisandra Paraguassu
Fonte: Agrolink