O aumento do preço do arroz é resultado do superaquecimento da demanda mundial provocada pela pandemia de COVID-19, aliada à forte valorização do dólar frente ao real e à falta de incentivo à atividade orizícola no Brasil nos últimos 10 anos, o que levou muitos produtores a abandonar o setor, com a consequente redução da área plantada, embora tenha ocorrido incremento da produtividade (rendimento da produção por hectare).
Este foi o cenário apresentado pelo presidente da Abiarroz, Elton Doeler, ao participar de audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta quarta-feira (30). O encontro virtual foi proposto pelo deputado estadual Bartô e também contou com a participação do Sindarroz-MG, do setor supermercadista, do Cepea/Esalq/USP, do Ministério Público do Estado de MG e do Fórum dos Procons Mineiros.
Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Arroz, o setor viveu um cenário de desestímulo nos últimos anos, que provocou forte depreciação do preço do produto. “O preço do quilo do arroz girou, nos últimos oito anos, em torno de R$ 2. Isso fez com que muitos produtores optassem por outras atividades produtivas, como a da soja e a da bovinocultura”, lembrou Doeler.
No Rio Grande do Sul, maior produtor nacional do cereal, além do abandono do setor por agricultores, houve redução de 30% no número de indústrias de beneficiamento, acrescentou o presidente da Abiarroz. Esse cenário, assinalou, também levou ao desinvestimento na agroindústria, já que a cadeia passou a ter rentabilidade insuficiente. “Nos últimos sete, oito anos, a atividade não foi remuneratória”, reforçou Doeler.
Continua depois do formulário
{module 442}
Com a pandemia, alguns dos principais fornecedores globais de arroz, como a Índia e a Tailândia, se retiraram do mercado, fazendo com que houvesse uma maior procura pelo cereal brasileiro. De março a agosto deste ano, a demanda internacional pelo arroz do Brasil deu um salto, na comparação com igual período de 2019, pontuou o presidente da Abiarroz.
“Isso fez com que o Brasil se tornasse um player importante no mercado mundial de arroz, criando uma oportunidade interessante para produtores e indústrias de beneficiamento, devido à valorização cambial” observou Doeler. Ao mesmo tempo, a pandemia fez com que um maior número de brasileiros mudasse os hábitos alimentares e passasse a fazer as refeições mais em casa, o que igualmente elevou a demanda interna.
Em consequência desse contexto, houve uma valorização do cereal, cuja saca de 50 quilos passou de R$ 45 em março para R$ 106 em agosto, conforme dados do Cepea, disse Doeler. No mercado interno, o preço do produto também se recuperou, com o quilo entre R$ 5 e R$ 7 no varejo. Para ele, esse patamar de preço deve permanecer, o que dará sustentabilidade à cadeia e deve garantir o abastecimento nos próximos anos, sem sobressaltos como o ocorrido neste ano em razão da covid-19.
Durante a audiência, o presidente da Abiarroz ressaltou ainda que a indústria não é formuladora de preços, sendo apenas um dos elos da cadeia. “A indústria é simplesmente o elo intermediário da cadeia. Ela compra dos produtores, processa e revende aos supermercados, que têm o arroz um dos seus produtos de atração dos consumidores. Não há culpados pelo aumento do preço do arroz.”
Doeler também falou, no encontro online, sobre o pedido feito pela Abiarroz ao governo federal para a retirada da TEC (Taxa Externa Comum) sobre a importação de arroz de terceiros países, além do Mercosul, onde a tarifa já não é aplicada por causa do acordo comercial entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
“Pedimos a retirada da TEC preocupados não só com o preço do arroz ao consumidor, mas também com o abastecimento interno”, acentuou o presidente da Abiarroz. O governo federal autorizou a importação de até 400 mil toneladas do produto sem a cobrança da TEC de terceiros países. Para ele, a abertura de mercado é importante para incentivar o abastecimento doméstico.
Fonte: DATAGRO
LEIA TAMBÉM:
{module 441}