Imagem: Pixabay
“Muitas indústrias do setor têm sentido a escassez dos produtos”
A pandemia causada pelo coronavírus gerou impacto em diversos segmentos e mercados. Um deles foi o de máquinas e implementos no agronegócio, que passou a enfrentar problemas com fornecimento de matéria-prima. Uma pesquisa online feita pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) avaliou os efeitos dos seis meses da pandemia na indústria, e mostrou que 47% das empresas estão encontrando dificuldades para conseguir insumos, matérias-primas e mercadorias.
Além disso, a pesquisa também apontou que 63% das empresas estão com o estoque baixo, fazendo com que o preço da matéria-prima aumente consideravelmente. Esse estudo realizado na grande São Paulo nos dá uma amostra da situação em todo o Brasil. A MP Agro de Ibaté-SP, por exemplo, fabricante de distribuidores de adubo, é uma das companhias que está tendo dificuldades com os fornecedores: “Começamos a sentir o impacto logo nos primeiros meses após o início da pandemia, mas neste último trimestre a situação tem se intensificado”, explica o diretor presidente, Douglas Peccin.
Demanda aquecida
Um outro ponto de destaque é o grande desafio de atender a forte retomada da demanda vinda do campo, pois com a pandemia, houve uma desaceleração abrupta e a retomada ocorreu da mesma forma, formando um “V”. “Os meses passaram e os estoques em geral acabaram sendo reduzidos a níveis mínimos de operação, o que ocasionou escassez no mercado e reajustes importantes de nossos fornecedores”, aponta, o gerente de suprimentos da MP Agro, Edson Marchetti.
A empresa tem seu sistema de gestão certificado pela ISO 9001 e uma estrutura de planejamento organizado, o que permitiu a garantia da contínua produção durante 2020. “Porém, se essa situação se estender por mais alguns meses, a indústria como todo o mercado, sentirá ainda mais a escassez de produto final na ponta. O cenário está bem incerto em relação ao fornecimento, não sabemos como serão os próximos meses, estamos vivendo um dia após o outro”, complementa ainda o diretor presidente da fabricante.
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O que dizem os fornecedores
Há diversas razões apontadas para a situação adversa entre oferta e demanda no Brasil. A alta do dólar, a baixa produção devido à queda da força de produção causada pela diminuição de funcionários nas fábricas, o aumento das exportações em decorrência do câmbio favorável e ainda a normalização da demanda em países onde a doença está mais controlada.
O diretor de compras e qualidade da Suprir, uma das fornecedoras da MP Agro, Lucas Santos, fala sobre o cenário do aço. Segundo ele, o Brasil está vivenciando um momento de grande expansão no consumo, e isso tem acarretado atrasos no fornecimento da cadeia de suprimentos. “Quando surgiu a pandemia, prevíamos que a recuperação da demanda seria lenta no segundo semestre de 2020, e para nossa surpresa, temos observado uma forte retomada nos últimos meses. Além disso, o segundo lockdown na Europa está sendo feito de forma mais precisa e impactando pouco na atividade industrial”, diz. O que confirma o momento sentido pela fabricante de distribuidores de adubo.
Já o representante da Cordob Indústria e Comércio, Wemerson Ricardo Cano, fabricante de soluções em processamento de chapas metálicas, afirma que houveram vários aumentos a partir de julho de 2020. “Tiveram impacto as bobinas FQ de aço carbono com variações de até 100% dependendo da espessura além, de insumos em geral, como gás, nitrogênio, eletricidade e outros consumíveis”, afirma.
O diretor da MP Agro endossa que mesmo com todas as intempéries enfrentadas esse ano, a empresa não tem medido esforços para cumprir seus compromissos com o cliente, conseguindo manter as entregas. Contudo, segundo ele o abastecimento de matéria prima deve se normalizar somente no final do primeiro trimestre de 2021. “O grande impacto está em nosso cliente que precisa do produto, do maquinário para produzir e não pode perder o time da sua produção, por isso é importante que ele esteja atento e realize suas compras com antecedência para garantir a sua máquina em campo quando for utilizá-la”, relata Douglas Peccin.