Imagem: Pixabay
O Brasil está mapeando oportunidades de fortalecer sua cadeia fornecedora do setor de energias renováveis, em um passo que visa estimular a reindustrialização nacional e também projetar o país como protagonista na transição energética mundial, disse à Reuters um secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Os trabalhos, que fazem parte da proposta de uma nova política industrial do país, vão ao encontro de demandas da indústria, que vê a possibilidade de o Brasil se tornar um “hub” exportador de tecnologia para a transição energética, e ao mesmo tempo reduzir sua dependência de importações, segundo executivos consultados.
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A fonte solar fotovoltaica, que cresce rapidamente no país, é um dos principais focos do eixo “energia e descarbonização” do plano em gestação, disse Uallace Moreira, secretário de Desenvolvimento Industrial.
Segundo ele, o governo está estudando toda a cadeia solar para identificar oportunidades, tanto no upstream, como fabricação de módulos e inversores solares, quanto no downstream, como serviços de engenharia e operação e manutenção.
“O grande desafio agora é avaliar onde o Brasil tem capacidade já construída e que pode ser fortalecida, adensada, e onde pode entrar, principalmente fazendo parcerias tecnológicas com países que já têm alguma expertise, principalmente no desenvolvimento de peças e componentes para energia solar”, afirmou Moreira, em conversa com a Reuters.
O Brasil tem fabricação local de parte dos equipamentos utilizados na geração de energia solar, que já alcançou o posto de segunda maior fonte da matriz elétrica nacional, mas os painéis — principal componente dos sistemas — são majoritariamente importados da China.
A China domina o mercado mundial de módulos solares, situação que já suscitou alertas da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) e levou Europa e Estados Unidos a montarem planos para incentivar fabricação própria e reduzir a dependência de importações.
O Brasil pode seguir nessa mesma direção, a depender do que for definido na política industrial. Empresas como a italiana Enel estão expandindo sua produção de módulos solares mundialmente e já indicaram interesse em trazer fábrica ao Brasil, caso as condições para produção se mostrem favoráveis. Um passo importante já foi dado com a reedição do Padis, programa de incentivo fiscal a semicondutores. Em março, o governo emitiu decreto incluindo no Padis peças e equipamentos usados na fabricação de painéis solares, garantindo redução de impostos sobre matérias-primas como chapas e tiras de cobre e vidro temperado.
Moreira ressaltou que, no caso de desenvolvimento de novas tecnologias, a proximidade de relações do Brasil com a China é um diferencial e lembrou que, na última visita do presidente Lula ao país, foram assinados vários memorandos para parcerias com empresas e entidades chinesas.
EÓLICA – Além da solar, também serão discutidas iniciativas para incentivar a cadeia de suprimento de energia eólica, já consolidada localmente, e do hidrogênio verde, que tem atraído o interesse da União Europeia em investimentos no país.
Segundo Moreira, a proposta de nova política industrial brasileira, que contará com sete “missões”, envolvendo áreas como agroindústria, saúde e moradia, deverá ser lançada até dezembro.”Estamos trabalhando, tentando acelerar tudo, para que seja entregue antes desse prazo. Porque estamos falando de política industrial, exige um prazo de maturação de investimentos razoável”.
O tema está sendo discutido no âmbito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), vinculado à presidência da República, composto por representantes dos 20 ministérios, além do BNDES, e mais 21 conselheiros representantes da sociedade civil.
VISÃO DA INDÚSTRIA – As diretrizes da nova política industrial são aguardadas ansiosamente por fabricantes e agentes do setor de energia, que enxergam, assim como o governo, uma janela de oportunidade para o Brasil se projetar mundialmente na agenda de sustentabilidade e descarbonização.
A Aeris, que hoje fabrica pás para geração eólica, vem estudando a diversificação dos negócios para materiais compostos da transição energética — isto é, soluções que permitam a substituição de metálicos por materiais mais leves na indústria automotiva, aeronáutica e outras, visando reduzir o consumo de energia.
Para o diretor de Planejamento da Aeris, Bruno Lolli, é importante que o governo incentive essa indústria com linhas de financiamento dedicadas e “algum grau de protecionismo”, com regras de conteúdo local.
“É bem pouco provável que outro país da América Latina atinja a escala que conseguimos atingir no Brasil. Se o governo ajudar a gente a nascer com esses produtos, em pouco tempo a gente ganha volume e escala suficiente para abastecer a América Latina”, avaliou Lolli.
Na visão do vice-presidente sênior da Siemens Energy para a América Latina, André Clark, o Brasil tem a oportunidade de se projetar em energia como fez no passado com a indústria aeronáutica, em uma política que incentivou o desenvolvimento de produtos altamente tecnológicos e que colocou a Embraer entre as principais fabricantes de aeronaves do mundo.
Clark ressaltou, porém, a importância de que essa reindustrialização venha atrelada à reforma tributária.
“Qualquer política industrial nasce frágil, ela depende de o investimento acontecer e os mercados comprarem. Não pode nascer uma planta frágil no mundo adverso dos nossos impostos e de ‘framing’ dos gastos públicos”, ponderou.
Já a associação de energia solar Absolar aponta que será necessário garantir demanda para que fabricantes, como os de módulos solares, realmente decidam se instalar no Brasil.
“O governo pode usar o poder de compra do Estado para comprar produtos fotovoltaicos feitos no Brasil, para colocar energia solar em prédios públicos, escolas, hospitais”, notou o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia.
Segundo ele, o governo poderia, por exemplo, conceder algum tipo de incentivo a quem adquirir equipamentos de procedência nacional em programas como o Minha Casa, Minha Vida e aqueles voltados à universalização de energia e a soluções de descarbonização na Amazônia.
Fonte: Letícia Fucuchima | Notícias Agrícolas