A cerca de um mês para o encerramento do ano comercial 2023/24 do algodão norte-americano, consolida-se a avaliação de que o Brasil vai assumir pela primeira vez a liderança global na exportação da pluma, acabando com um reinado de décadas dos Estados Unidos.
Segundo o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Miguel Faus, a liderança chega antes do previsto e vem após um salto anual de cerca de 85% nas exportações do país sul-americano, em meio a safras e embarques recordes no Brasil e forte demanda de países asiáticos, incluindo a China, enquanto nos EUA a produção recuou por problemas climáticos.
“Nós achamos que alcançamos o resultado de ser o maior exportador um pouco antes do que imaginávamos que poderia acontecer. A quebra da safra americana e o aumento da brasileira são as principais razões”, disse Faus à Reuters.
Ele citou dados do próprio Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que em relatório neste mês revisou para cima a previsão de exportações de algodão do Brasil em 300 mil fardos, para 12,4 milhões de fardos, enquanto reduziu em 500 mil fardos a perspectiva de embarques dos norte-americanos no período de 12 meses (agosto de 2023 a julho de 2024), para 11,8 milhões de fardos.
Na temporada 2023/24, o Brasil já havia superado os Estados Unidos também na produção de algodão, segundo o USDA, ficando em terceiro lugar no ranking global atrás de China e Índia –posições que devem ser mantidas em 2024/25.
Brasil em rota de superação: Rumo à liderança global
O próprio USDA afirmou que as exportações brasileiras têm mantido um ritmo mais forte do que o esperado e que o Brasil deve superar os EUA como o maior exportador em 2023/24. Essa é uma posição de liderança que os norte-americanos sustentam desde o início da década de 1990, notou o departamento do governo em relatório visto pela Reuters.
Segundo a Anea, o Brasil tem espaço para crescer mais ainda no próximo ano de exportações (2024/25), uma vez que está começando a colher uma safra que deve registrar novo recorde, e outro incremento é possível em 2025/26.
“As coisas estão indo bem, acho que no médio prazo o Brasil vai se consolidar nesta posição de liderança”, afirmou Anea, destacando os diferenciais da qualidade, a rastreabilidade e a produtividade da lavoura brasileira.
Para 2024/25, o USDA prevê que os EUA superem o Brasil em exportações com 13 milhões de fardos, enquanto finalizam o plantio. Mas a disputa será acirrada, cabeça a cabeça.
Ademais, para o dirigente, é cedo para dizer sobre os impactos da nova posição do Brasil no mercado, que continua “muito concorrido”. “A cotação do algodão em Nova York não nos dá vantagem, pois reflete apenas o preço do algodão dos EUA. Não é o brasileiro”, notou.
Ele diz que a liderança do Brasil no algodão é menor do que no café, onde o país domina na produção e exportação. “No caso do algodão, as forças estão mais equilibradas… mas claro, se o Brasil aumenta ou diminui a produção, o mercado presta atenção…”, comentou.
Recorde na produção e exportação
O ano safra 2023/24 do Brasil encerra em junho com exportações recordes estimadas em 2,6 milhões de toneladas, segundo Faus. Até sexta passada, embarques acumulados da safra somaram 2,538 milhões de toneladas, superando o recorde anterior de 2020/21 com 2,414 milhões. Recorde superado após anos devido à pandemia e mercado instável; setor se recupera com clima favorável, afirma o presidente da Anea.
As exportações brasileiras cresceram devido à maior demanda de países como Paquistão e Bangladesh, que enfrentaram dificuldades financeiras anteriormente. Essa retomada colaborou para superar as expectativas. “A gente achava que iria exportar inicialmente 2,4 milhões, 2,45 milhões de toneladas.”
Entre os principais mercados do algodão brasileiro estão China, Vietnã, Bangladesh, Turquia e Paquistão.
Fonte: Roberto Samora | Notícias Agrícolas