Brasil busca alianças para regulação global na economia verde

Brasil busca alianças para regulação global na economia verde
Imagem: Pixabay

Os marcos regulatórios externos são influenciados pelas mudanças geopolíticas, com ideias unilateralistas, protecionistas e nacionalistas, e o enfraquecimento do multilateralismo, mas também por outros fatores, como preferências do consumidor, questões climáticas, de biodiversidade, desflorestamento e ideologias políticas. “O Brasil precisa ser estratégico, desenvolvendo uma agenda positiva e proativa, e apresentando propostas com fundamentação científica, apoiadas por uma massa crítica, por meio de alianças com outros países”, avaliou o embaixador Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio) durante o webinar ABAGTALKS – Agronegócio e Geopolítica: o papel do Brasil frente às novas regulamentações estrangeiras, promovido pela ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), nesta terça-feira (7).

De acordo com Azevêdo, para encontrar soluções diante da fragmentação devido à polarização de países, não é possível esperar por organismos internacionais, que estão enfraquecidos e não possuem agilidade suficiente para essa discussão. Desse modo, países precisam tomar a dianteira, especialmente, o Brasil, que possui capacidade e influência quando se trata do agronegócio. O setor privado é crucial, impactando significativamente a compreensão do setor público sobre os eventos atuais. Por isso, precisa haver uma articulação entre ambos”, observou.

Alianças estratégicas e sustentabilidade

O trabalho de articulação promovido pelo Brasil exigirá tempo, pois será preciso formar alianças estratégicas nos mais diversos blocos, segundo Azevêdo. “No caso da segurança alimentar, os Estados Unidos podem ser um grande aliado, porque precisam enfrentar regulamentos protecionistas sem base científica. Ou seja, mesmo que os problemas não sejam idênticos, é possível encontrar temas para cooperação”, exemplificou o embaixador, que acrescentou que o Mercosul pode criar foros internacionais, junto a outros parceiros, a fim de ajudar no desenvolvimento de uma agenda internacional, com fundamentação científica, para assegurar credibilidade e para mostrar que a realidade de cada país é distinta.

Para Caio Carvalho (presidente da ABAG), o unilateralismo tem trazido desconfianças que aumentam o processo de fragmentação e de imprevisibilidade. “As reuniões sobre marcos regulatórios indicam desinteresse global, exacerbando a crise de confiança”, destacou. Corroborando com as ponderações de Azevêdo, Carvalho avaliou que é preciso estabelecer uma geopolítica de interesse global, com mercados abertos, baseada em ciência e em métricas, favorecendo o diálogo e confiança, por meio de ações proativas. “Precisamos estar à frente, liderar a narrativa, por meio de uma integração entre os setores público e privado, a fim de incluir marcos regulatórios que aceleram a transição para uma economia verde, com benefícios para os agentes do agronegócio e para a sociedade”.

O paradoxo do carbono na agricultura

Mediado por Ingo Ploger, vice-presidente da ABAG, o webinar contou com a participação de Renata Miranda (secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura e Pecuária), que destacou o compromisso da agricultura brasileira com a sustentabilidade. “Nosso país pode ocupar seu lugar de protagonismo ao compreender o cenário geopolítica e ao estabelecer políticas estruturantes de desenvolvimento sustentável – nos pilares econômico, social e ambiental –, reconhecendo essas novos modelos de negócios existentes”. Ela citou ainda a importância do cooperativismo e do associativismo ao respeitar o caráter setorial e regional, as condições e variáveis dos biomas, a história e a cultura local e dos povos originários para a transição tecnológica, reduzindo custos e ampliando a competividade de pequenos e médios produtores rurais.

Outro ponto trazido por ela foi a questão do carbono na agricultura. “Nosso setor trabalha no paradoxo mágico, pois é a única que captura carbono da atmosfera e o transforma em alimento, fibra e energia. Por isso, é injusto que inclua a agricultura na contagem das emissões globais. Renata destacou que o agro emite e captura carbono, enfatizando a necessidade de investir em ciência para medir o carbono no solo.

Liderança regional em soluções globais

Marcelo Regunaga, do GPS, destacou o potencial alimentar e ambiental de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai durante o webinar. “Somos líderes em soluções globais para questões críticas onde organizações mundiais falham em atuar eficazmente. Mas, devemos colaborar com os governos para entender nossa realidade, aperfeiçoar processos e posicionar nosso bloco globalmente.”

Regunaga analisa que o agronegócio regional lidera em sustentabilidade, com práticas como plantio direto e biotecnologia reduzindo agroquímicos. “Precisamos mostrar que nossa região diversa ajuda a resolver a segurança alimentar e a transição energética globalmente. Nesse sentido, é preciso respeitar a realidade de cada país. Restrições unilaterais sem base científica são prejudiciais; é necessário recuperar a governança global através de ação conjunta entre entes públicos e privados.”

Fonte: Datagro

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