A balança comercial brasileira registrou um superávit mensal recorde no mês de julho, com saldo positivo de US$ 8,1 bilhões, considerando toda a série histórica iniciada em 1989. O recorde anterior era de maio de 2017, com US$ 7,7 bilhões. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (03), pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. O superávit resultou de exportações no valor de US$ 19,6 bilhões e importações de US$ 11,5 bilhões, totalizando uma corrente de comércio de US$ 31,1 bilhões.
As exportações do mês apresentaram queda de 2,9% em relação a julho de 2019 – quando chegaram a US$ 20,2 bilhões –, refletindo a redução de 14,7% nos preços dos bens exportados, apesar de um crescimento de 13,4% no total de embarques, medidos pelo índice de quantum.
Já nas importações, houve redução de preços (-7%) e de quantidades (-27,7%), o que motivou uma queda de 35% em relação aos números de julho de 2019, quando as compras externas atingiram US$ 17,8 bilhões.
Com esses números, o saldo positivo de julho de 2020 representou uma alta de 237,1% em relação ao superávit de julho do ano passado, que foi de US$ 2,4 bilhões. “Temos uma balança comercial muito formatada de acordo com o que vem acontecendo no cenário externo, em termos do destino das nossas principais exportações e, no lado das importações, formatada por uma conjuntura doméstica, que está em franca recuperação, mas que ainda leva um tempo para se refletir nas importações”, comentou o secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz, em coletiva de imprensa.
De acordo com os dados da Secex, houve aumento de quantidade em todas as categorias de produtos exportados, com redução dos preços, na comparação de julho de 2020 com o mesmo mês do ano passado. Os destaques em quantidades foram os crescimentos dos embarques da indústria extrativa mineral (+41,2%) e da agropecuária (+21,1%), mas os preços diminuíram, principalmente na indústria extrativa (-28,5%) e na indústria de transformação (-13%).
Nas importações, houve redução no quantum, principalmente na indústria extrativa (-51,6%) e na de transformação (-20,9%), que responde pela maioria das importações brasileiras. Nos preços também houve redução, com diminuição de 19,5% na indústria extrativa, de 11% em agropecuária e de 7,4% nas indústrias de transformação.
Acumulado do ano
Já os números da balança de janeiro a julho de 2020 apresentam redução nas exportações (-6,4%), de US$ 129,6 bilhões para US$ 121,3 bilhões, e nas importações (-10,5%), de US$ 101,5 bilhões para US$ 90,9 bilhões, em relação a julho de 2019.
O saldo comercial, assim, subiu 8,2% neste ano, atingindo valor acumulado de US$ 30,4 bilhões sobre os US$ 28,1 bilhões dos primeiros sete meses do ano passado. “Quando se agregou julho, o saldo comercial, que era de redução, passou a ser de crescimento ao longo do ano”, destacou o subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior, Herlon Brandão.
A agropecuária mais uma vez se destacou nas quantidades exportadas, com alta de 20,5% em relação aos embarques de janeiro a julho do ano anterior. O secretário Lucas Ferraz observa que esses números refletem “a alta resiliência das exportações da agropecuária e do agronegócio em geral”.
Segundo ele, essa resiliência se deve à própria característica desses produtos, que são produtos alimentares e estão menos sujeitos a flutuações de renda. “Foram cadeias de suprimentos menos afetadas na crise provocada pela Covid-19, comparando-se às cadeias manufaturadas e de serviços, e foram ajudadas por um dólar em condições mais favoráveis, ajudando e impulsionando as nossas exportações”, explicou.
Dinâmicas externa e interna
Ferraz disse que o desempenho da balança comercial está refletindo a dinâmica de recuperação do setor externo, porque boa parte das exportações são impulsionadas pelo agronegócio e destinadas ao continente asiático. “É o continente que demanda nossas commodities agrícolas e que está se recuperando primeiro da crise da Covid-19, à frente dos Estados Unidos e da Europa”, afirmou.
Isso pode explicar, inclusive, o desempenho inferior das exportações industriais brasileiras, que estão muito sujeitas às flutuações externas, por serem produtos mais afetados pelas flutuações de renda. “Os principais destinos das nossas exportações industriais são os Estados Unidos, a Europa e sobretudo a Argentina, que ainda sofrem muito os abalos da crise da Covid-19”, ponderou.
Ele destacou também a boa performance de embarque das commodities extrativas, sobretudo de petróleo e seus derivados, porque, apesar da queda de preços durante a crise, os embarques têm sido fortes, principalmente para a região asiática.
Do lado das importações, há “uma queda generalizada, tanto industriais quanto agrícolas e extrativas”. Isso tem muito a ver com a dinâmica interna da economia brasileira, que ainda se encontra em um processo de recuperação. “Ainda que os sinais estejam claros de uma recuperação, leva algum tempo até isso se refletir no resultado do comércio exterior”, destacou o secretário.
Estimativas
Ele acredita que, até o final do ano, o contexto pode melhorar para as exportações de manufaturados, a partir do momento em que se consolide a recuperação dos Estados Unidos e da Europa, “ainda envoltos em um ambiente de incertezas muito grande”. Pela tendência do segundo trimestre, principalmente pelo que já foi observado no continente europeu, o secretário entende que, “se essa recuperação se consolidar no segundo semestre, é possível que as nossas exportações industriais também apresentem uma melhor performance”.
A Secex prevê, para o final deste ano, uma redução da ordem de 10,1% nas exportações e de 17% nas importações, na comparação com o ano passado.
Fonte: DATAGRO
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