O Rio Grande do Sul (RS) é o nono maior estado em extensão territorial e quinto mais importante na construção do PIB brasileiro, representando 6%. Em 2023, o estado gerou R$ 643 bilhões para a economia brasileira, sendo 40% desse valor proveniente da agricultura e da agropecuária. Como principal produtor de arroz e segundo maior produtor de soja, as recentes enchentes no Rio Grande do Sul tiveram um impacto significativo, principalmente nos setores agrícolas. Leandro Leão, especialista em óleo de soja, compartilha alguns dados sobre o atual cenário do estado e suas consequências futuras.
Impacto das enchentes na agricultura
As enchentes causaram um prejuízo estimado em R$ 68 milhões na produção de arroz. Quanto à soja, embora as perdas sejam difíceis de quantificar concretamente neste momento, estima-se uma redução de aproximadamente 2 a 3 milhões de toneladas. A produção de soja no RS de 2024 era prevista na faixa de 22 a 23 milhões de toneladas, mas, devido às enchentes, esse número deve cair para algo entre 19 e 20 milhões. Isto representa uma perda geral de 10% a 15% na safra desta temporada. A situação poderia ter sido ainda mais grave se a colheita nos campos não estivesse tão avançada. Antes da catástrofe, os produtores do Rio Grande do Sul já tinham colhido 70% da soja nas principais regiões, restando os 30% restantes afetados pelas enchentes.
Os prejuízos totais no setor agrícola somam R$ 435 milhões, enquanto o setor pecuário enfrenta perdas de R$ 135 milhões. Os fatores como a produção, o esmagamento e a mão de obra sofreram severos impactos. Um exemplo da magnitude do impacto é o silo da Bianchini, que rompeu e levou a uma perda de 100 mil toneladas de soja, resultando em aproximadamente R$ 1 milhão de prejuízo. A lama deixada pelas enchentes coloca em questão o tempo necessário para restabelecer a retomada das operações industriais, com fábricas de diversos setores, como Braskem e Gerdau, tendo que paralisar suas atividades e conceder folgas e férias aos funcionários devido ao impacto.
Causas climáticas
As enchentes causam vários tipos de danos aos solos utilizados para o cultivo de soja e arroz. A água em movimento pode levar embora a camada superficial do solo, resultando em perda de fertilidade e menor produtividade. Pode ocorrer a compactação do solo, dificultando a penetração de raízes e a infiltração de água e nutrientes. O excesso de água pode levar à anóxia, causando a morte das raízes e reduzindo a capacidade das plantas de absorver nutrientes. Além disso, a lixiviação de nutrientes e deslocamento de sedimentos podem enterrar sementes e introduzir poluentes químicos no solo.
O fenômeno climático El Niño foi um fator essencial para essa catástrofe, causando chuvas concentradas na região sul, especialmente nas áreas do rio Taquari. O aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial interfere nos padrões de ventos e chuvas, causando mais precipitações e calor no sul do Brasil. Este fenômeno climático exacerbou a situação das enchentes, levando a um desastre comparável ao ocorrido em 1941.
Recuperação e impactos no RS
Espera-se que o RS leve aproximadamente de 6 meses a um ano para se recuperar totalmente e voltar a produzir, contando especialmente com a ajuda fiscal, incentivos monetários e apoio do setor político para que possam se reestruturar. A cadeia alimentar foi afetada, impactando a produção de subprodutos como farelo e farinha. Para termos uma noção, o impacto das enchentes poderá desencadear um efeito cascata e alterar indiretamente os preços da carne. A menor disponibilidade de soja no estado do RS fará com que haja menos farelo de soja, usado diretamente na composição da ração bovina. Isso encareceria a produção e faria o preço da carne bovina subir.
O estado representa metade da produção de trigo do país, o que pode levar ao aumento do preço do pão devido à redução da oferta. O impacto das enchentes na agricultura do RS deve ser sentido nos próximos meses. Os produtores do estado respondem por 70% da produção de arroz, e outros estados não compensarão a perda significativa. O mercado doméstico provavelmente sofrerá mais impactos do que as exportações desses produtos.
Ademais, as enchentes evidenciam a necessidade de políticas ambientais eficazes e de infraestrutura adequada para mitigar futuros eventos climáticos extremos, garantindo a resiliência do setor agrícola e pecuário do Rio Grande do Sul.
Em face das severas enchentes que assolam diversas regiões do Estado do Rio Grande do Sul, resultando em inúmeras cidades submersas e milhares de cidadãos desalojados, a Aboissa Commodity Brokers expressa sua profunda solidariedade aos afetados por esta catástrofe natural.
Convidamos a comunidade e parceiros a contribuir para as iniciativas de assistência às vítimas, por meio de doações monetárias ou de itens essenciais. Detalhamos em nosso post do instagram algumas formas de colaboração.
Entrevista com Leandro Leão | Especialista em óleo de soja
Por Vanessa Ferreira