Crise dos fertilizantes pode afetar abastecimento interno do Brasil


Imagem: Pixabay

As principais matérias primas de fertilizantes e os produtos formulados subiram mais de 100% em 2021. Produtos como o Super Simples (fósforo), por exemplo, registraram alta média de 115% no interior do Brasil. O KCL (potássio) é o líder de altas, até poucas semanas atrás, subiu mais de 178% na média nacional.

Segundo o agrônomo e analista de mercado Cristiano Palavro o que mais subiu no ano é o nitrogênio. “A ureia acumula, em 2021, alta média de 234%, com movimento mais agressivo observado do final de agosto até o momento”, pontua. De acordo com ele, vários fatores impactaram as altas dos fertilizantes, como os preços dos combustíveis e da energia em geral, somados a problemas logísticos sistêmicos e pontuais.

“Hoje as principais preocupações giram em torno da restrição das exportações da China, que devem afetar principalmente os mercados de fosfatados e nitrogenados”, alerta ele. O especialista explica que isso ocorre em função da dificuldade de oferta no país e a priorização do abastecimento interno em detrimento das exportações.

Também existem problemas geopolíticos afetando outros países e mercado, como é o caso das restrições comerciais na Bielorrússia que afetam diretamente a oferta de potássio.

Crise no campo

O presidente Jair Bolsonaro citou, na última semana, que o Brasil poderá sofrer um desabastecimento de alimentos em 2022 devido à falta de fertilizantes causada pela diminuição da fabricação chinesa.  A declaração ocorreu durante a cerimônia de modernização de normas de segurança e saúde no trabalho, no Palácio do Planalto.

“Vou avisar um ano antes: fertilizantes. Por questão de crise energética, a China começa a produzir menos fertilizantes. Já aumentou de preço, vai aumentar mais e vai faltar. A cada cinco pratos de comida no mundo, um sai do Brasil. Vamos ter problemas de abastecimento no ano que vem”, afirma ele.

No feriado do dia 12 de outubro, Bolsonaro esteve no Guarujá para descansar com a família. Durante passeio pela cidade, ele foi recebido por apoiadores e voltou a citar a crise dos fertilizantes. “Temos problemas pela frente. Estou adiantando para vocês a crise dos fertilizantes”, declarou.

Segundo a fala do presidente, durante reunião com a frente parlamentar da agricultura, a crise foi discutida e a Secretária Especial de Assuntos Estratégicos apresentou o Plano Nacional de Fertilizantes, que está sendo discutido desde o mês de abril.

Como opção para o produtor rural, Bolsonaro citou o pó de pedra ou pó de rocha, que é um produto nacional e está entre as principais opões para substituir o potássio. O Plano busca fortalecer as políticas de incremento da competitividade da produção e da distribuição de insumos e de tecnologias para fertilizantes no país de forma sustentável.

Na prática, com a elaboração do Plano Nacional de Fertilizantes, o Governo Federal quer diminuir a dependência externa e ampliar a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional.

Os dados nacionais, divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior do governo federal, indicam que chegaram ao país, considerando todos os tipos de fertilizantes, 24 milhões de toneladas de janeiro a agosto, 17% a mais do que no mesmo período de 2020.

Diferença entre fertilizantes químicos e os pós de rocha

Segundo o mestre em agronomia e especialista em fertilidade do solo, Saulo Brockes, a principal diferença dos fertilizantes químicos para os pós de rocha é a solubilidade. Os adubos químicos são sais solúveis e adubam a planta por tempo limitado, somente enquanto disponível no solo. Esses produtos são limitados, por serem perdidos por evaporação e lixiviação, onde as raízes não tem mais acesso.

Quando lixiviados, esses sais causam contaminação dos efluentes e a intoxicação da água que gera impacto ambiental. “A consequência do uso irracional dos adubos químicos e solúveis é a salinização do solo e a perda que também pode ser por volatilização além da lixiviação”, como explica Saulo, que também é coordenador técnico da Tratto FMX.

Já os pós de rochas são o contrário dos fertilizantes químicos, pois são insolúveis, ou seja, não é perdido por lixiviação nem volatilização, não salinizam, nem degradam o solo e o meio ambiente. Os pós de rochas são insolúveis, mas bio-disponíveis, eles vão nutrindo e disponibilizando a nutrição para as plantas de acordo com a bio-demanda da cultura plantada.

No Brasil há diversas rochas usadas para agricultura como o Fino de Micaxisto (FMX), a rocha fosfatada e o calcário, que é utilizado para correção, mas é também fonte de cálcio e magnésio. O FMX, por exemplo, pode disponibilizar a nutrição para as plantas por até um ano, além de regenerar o solo, voltar o equilíbrio para o meio ambiente e condicionar o solo a melhorar a eficiência nutricional.

Esses pós de rocha são comercializados no mercado brasileiro entre R$ 100,00 e R$ 500,00 a tonelada. Se for comparada com a mesma quantidade do cloreto de potássio, o valor não chega a 5% do fertilizante importado. “O produtor rural fica livre para fazer a conta e ver qual a economia no final da produção”, pontua o mestre em agronomia.

Fonte: Notícias Agrícolas 

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