O Brasil não deverá realizar importações significativas de soja e milho dos Estados Unidos, apesar de uma isenção de tarifas para compras do produto de fora do Mercosul, afirmou à Reuters nesta terça-feira a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Segundo a Conab, a isenção da tarifa estabelece um novo teto para o patamar de preços, que estão em níveis recordes no caso da soja, após fortes exportações e elevada demanda interna. As cotações do milho também dispararam.
“Entretanto, os preços da soja são influenciados pelos preços internacionais e a questão cambial será importante para a evolução dos preços no ano que vem”, ponderou a estatal, ao responder perguntas por email.
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A Conab não detalhou os motivos de sua avaliação sobre as importações, mas o câmbio é visto por analistas ouvidos pela Reuters como um limitador de aquisições no exterior.
A companhia disse ainda que a safra brasileira começa a ser colhida no início do ano que vem, o que também limita compras no mercado externo.
O governo decidiu zerar no final da semana passada a tarifa de 8% para importação de soja e milho de fora do Mercosul. No caso do cereal, a isenção vai até o final do primeiro trimestre de 2021, enquanto para a oleaginosa é válida até 15 de janeiro.
“Para a soja, não se esperam quantidades grandes importadas em curto prazo, mas, sim, limite aos preços. A estimativa da Conab, por enquanto, se mantém entre 300 e 400 mil toneladas até final de dezembro. Em janeiro, já se inicia nova colheita”, afirmou.
Limitar a alta de preços do milho e da soja no mercado brasileiro é importante para que as carnes brasileiras se mantenham competitivas, acrescentou a Conab.
“Sem tarifa, a paridade de importação representa, aos produtores de frango e suíno, compra dos principais insumos a preços em relativa equidade com o pago por outros competidores.”
A Conab disse ainda que, para a soja, os EUA seriam o único país que poderia exportar soja para o Brasil a um preço competitivo.
“Em relação ao milho, importamos principalmente de países membros do Mercosul, mas com a isenção da TEC (Tarifa Externa Comum) poderemos aumentar as importações de milho dos EUA”, afirmou.
De janeiro a setembro, as aquisições de soja pelo país já somaram 528 mil toneladas, conforme dados do governo, que apontam entre os fornecedores países do Mercosul, principalmente o Paraguai. No caso do milho, as compras pelo Brasil já somaram pouco mais de 700 mil toneladas, com Argentina e Paraguai dominando as vendas.
ATRASO NO PLANTIO
Questionada sobre o atraso no plantio de soja da safra 2020/21 em função da seca, se poderia afetar produtividades no maior produtor e exportador global da oleaginosa, a Conab afirmou a equipe de campo “está atenta ao atraso, mas, por enquanto, não se visualiza impacto”.
“Nos últimos anos, os produtores brasileiros têm investido na capacidade de plantio e isso também pode mitigar os impactos iniciais desse atraso das chuvas. Além disso, o manejo adequado pode reduzir eventuais problemas ao desenvolvimento pleno das lavouras de soja”, detalhou.
Para o milho verão e o algodão, “acompanhamos com atenção se haverá ou não impacto”.
ADIDO DO USDA VÊ OBSTÁCULOS
Na véspera, o adido do Departamento de Agricultura norte-americano (USDA, na sigla em inglês) no Brasil publicou relatório no qual disse ver obstáculos às importações de soja e milho dos EUA pelo país, citando o nível dos “spreads” de preços e desafios logísticos e regulatórios.
O adido afirmou que cerca de uma semana antes de a decisão relacionada às tarifas ser anunciada, contatos no Brasil apontaram que operadores avaliavam a possibilidade de compras provenientes da América do Norte, mas que os preços não contribuíam para isso, apesar do desconto de 20 dólares a 25 dólares da oferta de soja dos EUA frente à brasileira.
Entre os empecilhos regulatórios, o representante do USDA destacou que há uma série de diferenças entre as variedades de soja e milho geneticamente modificadas aprovadas no Brasil e EUA.
“Há pelo menos nove variedades biotecnológicas tanto de soja quanto de milho disponíveis comercialmente e aprovadas para cultivo nos EUA que atualmente não são aprovadas no Brasil”, afirmou o adido.
“Além disso, os terminais portuários de grãos e oleaginosas no Brasil são configurados especificamente para exportações, e a engenharia reversa consome muito tempo e recursos”, acrescentou o representante do USDA, que também mencionou a longa distância entre os portos e as unidades de processamento de soja do interior do país, o que “eleva custos e, portanto, também é um fator limitador.”
Fonte: Notícias Agrícolas
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