Atualmente, o déficit global de cacau ultrapassa as 400 mil toneladas, gerando forte volatilidade tanto no mercado internacional quanto no brasileiro. A África, principal fornecedora da commodity, desempenha um papel crucial neste cenário, levantando preocupações sobre um possível desabastecimento de cacau no futuro. A dependência das safras africanas ficou evidente nos últimos anos, pois o continente lida com problemas sociais históricos e práticas de manejo insustentáveis que comprometem a saúde das lavouras.
O principal fator para a queda na produção são as árvores africanas, que estão envelhecendo e se tornam mais suscetíveis a doenças. Isso levou a uma redução de 30% a 35% na produção, que representa entre 70% e 75% do fornecimento global de cacau. Como consequência, os preços do cacau em Nova York subiram de uma média de US$ 2.000 para acima de US$ 7.000, atingindo o recorde histórico de US$ 12.000 em abril deste ano.
“O déficit nos estoques certificados da ICE, bolsa que negocia contratos de cacau, está entre os maiores da história. Isso se deve a sucessivos anos de quebra de safra na África, e este ano a produção não será suficiente para suprir a demanda”, afirma Ale Delara, CEO da Pine Agronegócios.
Alternativas para suprir a falta de cacau
Com a baixa oferta e os preços altamente voláteis, as indústrias têm buscado alternativas, como a substituição parcial do cacau por outros produtos, como o óleo de palma. No entanto, essa é uma solução temporária que não cobre todas as demandas supridas pelo cacau.
“Essa substituição é uma estratégia de longo prazo, pois as empresas aguardam atualizações sobre o avanço das safras e possíveis quedas nos preços antes de tomarem novas decisões”, explica Delara.
Impacto no Brasil
No Brasil, a redução no recebimento de amêndoas de cacau pelas indústrias ao longo do último semestre foi de 35%. O déficit nacional é estimado em cerca de 100 mil toneladas, e o país depende fortemente das importações africanas para atender à demanda interna e de outros países das Américas. No entanto, as importações no primeiro semestre deste ano caíram 50%, totalizando apenas 15 mil toneladas.
“É difícil prever se as indústrias conseguirão importar o volume necessário para atender o mercado. Temos mantido diálogos com parceiros para manter as fábricas operando e continuar investindo no Brasil. Nosso objetivo é reduzir a dependência das importações e recolocar o país entre os maiores produtores de cacau do mundo”. Afirma Anna Paula Losi, presidente-executiva da AIPC (Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau).
As indústrias brasileiras, tradicionalmente, fazem um esforço para manter as amêndoas de cacau no mercado interno, pagando ágio pela produção local. No entanto, o aumento nos preços internacionais refletiu nas estratégias dos produtores, especialmente na produção de cacau fino.
“O cacau fino costumava ser vendido por valores de 100% a 120% acima do preço da bolsa. Com os preços atuais, essa prática se tornou inviável, tornando a produção dessas amêndoas menos atrativa devido ao custo elevado”, complementa Anna Paula.
Perspectivas futuras
Segundo Delara, a reposição dos estoques globais só será possível caso as próximas safras africanas tenham boas produtividades. A expectativa para este ano é de uma produção em torno de 2 mi/ton. Enquanto a safra do próximo ano precisa se manter nesse patamar para que os estoques sejam normalizados.
O Brasil também enfrenta desafios com suas próprias safras, especialmente com a presença de doenças como Podridão Parda, Monilíase e Vassoura-de-Bruxa. Essas doenças podem comprometer a produtividade no momento em que o setor busca expansão e a retomada do crescimento, com o objetivo de estender o cultivo do cacau para novos estados.
“Estamos trabalhando para que o Brasil volte a ser autossuficiente e participe de forma mais representativa no mercado global. Para isso, o controle de doenças é essencial. Temos inúmeros programas de aumento de produtividade e suporte técnico para manejos mais eficientes. Pedimos que os produtores busquem esse auxílio para evitar possíveis pandemias e prejuízos”, orienta Anna Paula.
Fonte: Ericson Cunha | Notícias Agrícolas