Porque houve tão pouca adesão aos leilões de trigo da Conab, se foram tão reivindicados pelo setor? O analista sênior da Consultoria Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, explica que a resposta está nos preços líquidos finais em cada estado. “No Paraná, o prêmio oferecido não cobria a finalidade a que se propôs, que é a de garantir o pagamento do preço mínimo ao agricultor no interior do estado”, aponta o especialista.
O segundo grupo de leilões de trigo da safra 2016/17 no Brasil comercializou menos da metade do que foi ofertado, ou exatos 42,46%. O leilão de PEPRO comercializou 67,61% e somente no Rio Grande do Sul, com zero de interesse no Paraná e em Santa Catarina. O leilão de PEP comercializou apenas 2% das ofertas e somente no RS.
“O cálculo é o seguinte: preço atual R$ 35,00/saca ou R$ 583,45/tonelada. Se adicionarmos o prêmio do leilão de R$ 182,50 oferecido pelo governo daria R$ 765,95 posto no porto (para onde necessariamente tem que se levar a mercadoria para despachá-la, quer para os moinhos do nordeste, quer para exportação, porque o edital do leilão proíbe que seja vendida para os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste). O custo para levar para o porto, entre frete, recepção, armazenagem, documentação e embarque nos navios, mais comissões e taxas diversas é de R$ 152,13/t aproximadamente, deixando um líquido para o produtor de R$ 614,60 (ou R$ 36,87/saca) isto é, R$ 29,6/ton a menos do que o preço mínimo, sem contar que não há nenhuma remuneração prevista para cooperativas e cerealistas realizarem o trabalho em nome do agricultor (porque são elas que fazem tudo)”, explica Pacheco.
O analista da T&F afirma que ninguém vai querer “trabalhar de graça e ainda ter que cobrir o rombo entre o preço prometido e o preço concedido pelo governo e não ser ressarcido? Por seu lado, os produtores do estado estão guardando o seu trigo e pedindo no mínimo R$ 40,00/saca para vendê-lo. Por isso ficaram de fora”.
“Já no Rio Grande do Sul a situação é diferente: o mesmo cálculo acima garante R$ 36,87/saca no interior, quando o triticultor gaúcho recebe hoje cerca de R$ 29,00/saca, uma diferença de 27,14% a mais do que os atuais preços de pedra no estado. Então o leilão valeu a pena e o mercado se lançou com vontade, abocanhando 100% dos lotes, disputando preços de tal maneira a reduzir o prêmio em 17,29%. Estima-se que 85% dos arrematantes de PEPRO foram produtores (via cerealistas?) e 15%, cooperativas”, completa.
Pacheco aponta duas conclusões: A primeira é que os leilões não estão garantindo o Preço Mínimo do Governo Federal, de R$ 644,20/t a serem pagos ao agricultor; e a segunda é que os leilões não estão melhorando o nível geral do mercado físico, porque não estão enxugando estoques o suficiente para isso, mas apenas os dos lotes oferecidos nos pregões. O mercado físico não se mexeu (na verdade caiu um pouco em algumas regiões do PR).
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