À medida que 2024 se inicia, o mercado de óleo de palma encontra-se em uma encruzilhada de desafios e expectativas. Impulsionado por uma série de fatores climáticos, geopolíticos e econômicos, este mercado essencial revela uma paisagem complexa e em constante evolução.
O fenômeno El Niño destacou-se como um protagonista notável no ano de 2023, provocando mudanças climáticas ao redor do mundo. Contudo, no Sudeste Asiático, ele tende a elevar as temperaturas e reduzir as precipitações. Durante o período das monções, de outubro a março, a região enfrenta chuvas intensas e enchentes, o que impacta severamente a produção de palma. Além de aumentar a umidade na região, a colheita de palma é predominantemente manual. Esta situação é particularmente crítica em várias regiões asiáticas, onde a logística de transporte dos cachos de palma para as plantas extratoras enfrenta obstáculos significativos. Ao mesmo tempo, no Brasil, a seca no Pará causou uma redução de cerca de 10% na produção nacional, elevando os preços para aproximadamente 6200 reais a tonelada, CIF São Paulo com 12% de ICMS.
Estabilidade no mercado: Consumo moderado e perspectivas
No cenário global, a demanda por óleo de palma tem sido moderada. Países-chave como China, Índia, Paquistão, e alguns estados africanos e europeus, demonstram um consumo reduzido. Este fenômeno, juntamente com uma mudança nas políticas de compra pós-pandemia, onde as empresas optam por manter estoques reduzidos e focar em aquisições de curto prazo, tem mantido o mercado relativamente equilibrado, sem grandes flutuações de preço.
Olhando para os preços, a palma refinada está oscilando entre 800 e 850 dólares, FOB Malásia. Essa variação de preço reflete as nuances do mercado global, influenciadas tanto por fatores internos quanto externos. No entanto, espera-se uma certa estabilidade devido ao bom desempenho esperado da soja, o segundo maior produto no mercado de óleos e gorduras, com uma safra promissora em 2024, especialmente na Argentina.
Impacto geopolítico e climático no mercado global
O impacto dos fatores geopolíticos também não podem ser ignorados. Ademais, os conflitos no Oriente Médio e as tensões entre Rússia e Ucrânia têm repercussões diretas nos preços do petróleo, afetando indiretamente o mercado de biocombustíveis e óleos vegetais. Recentemente, um aumento nos preços do petróleo sinaliza potenciais ajustes nos preços dos óleos vegetais.
No Brasil, a situação no Pará e a incerteza da demanda global mantêm os clientes cautelosos, evitando riscos e mantendo o mercado lento nos primeiros dias do ano. Internacionalmente, antecipa-se um aumento na demanda a partir de fevereiro, especialmente no hemisfério norte, onde o consumo em bares e restaurantes tende a crescer com o fim do inverno. Tal aumento é esperado para impulsionar tanto o uso de combustível quanto a demanda por óleos vegetais.
A Índia, um dos maiores importadores de óleo de palma, realizou compras significativas ao longo do último ano. A situação climática em 2024 será um fator crucial para as futuras movimentações do mercado indiano, que atualmente mantém altos estoques e aguarda oportunidades de preço favoráveis. Paralelamente, a Indonésia, o maior produtor mundial de palma, paralelamente aumenta seu consumo, direcionando-o para biocombustíveis (B35) e suprindo as necessidades alimentares de sua vasta população, que soma aproximadamente 275 milhões de habitantes.
Recuperação gradual e desafios futuros no mercado
A situação da produção de palma no Pará está se recuperando lentamente com o retorno das chuvas nas últimas semanas. Contudo, ainda é cedo para determinar o impacto total dessas mudanças climáticas na produção nacional em 2024. Atualmente, o Pará se destaca como o principal produtor de óleo de palma no Brasil, com uma contribuição menor vinda da Bahia.
Em suma, o mercado de óleo de palma, apesar das incertezas e dos desafios atuais, mantém-se estável, com expectativas de um leve aumento nos preços. Além disso, fatores como as condições climáticas, as políticas globais e a demanda dos principais consumidores continuarão sendo fatores-chave na determinação das tendências de mercado.
Um dos aspectos cruciais será o acompanhamento do crescimento global da oferta e demanda de óleos e gorduras. A demanda tem aumentado rapidamente, impulsionada pelas políticas de biocombustíveis, enquanto a oferta enfrenta desafios devido a fenômenos climáticos e à redução das áreas.
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Entrevista com Thiago Prianti | Especialista em óleo de palma
Por Vanessa Ferreira