O aumento da mistura de biodiesel no diesel do Brasil a partir de março de 2024, de 12% para 14%, vai assegurar uma demanda adicional considerável de cerca de 5 milhões de toneladas de soja para a produção da principal matéria-prima do combustível renovável, o óleo de soja, mas há fatores limitando o impacto nos preços, pelo menos por enquanto, segundo especialistas.
Em um cenário de quebra da safra brasileira de soja, que responde por cerca de 70% da matéria-prima do biocombustível no Brasil, poderia ser imaginado um mercado mais firme, caso a produção se deteriore mais por conta do tempo seco.
Contudo, a indústria considera uma exportação menor de óleo de soja do Brasil no ano que vem, com parte do produto antes exportado sendo redirecionado para atender a demanda interna da indústria do biocombustível. Isso limita a procura pelo grão e compensa parcialmente o aumento do processamento esperado pelo maior volume de biocombustível produzido.
Além disso, está na conta do mercado uma safra cheia em 2024 na Argentina, tradicionalmente o maior exportador global de derivados da oleaginosa (farelo e óleo), que em 2023 foi o segundo maior comprador da soja brasileira devido à produção devastada pela seca.
Impactos da safra argentina e políticas de biodiesel no Brasil
Com o deslocamento do óleo antes exportado pelo Brasil para o mercado interno, o processamento adicional de soja em 2024 deve ficar, portanto, entre 1 milhão e 2 milhões de toneladas, na avaliação do analista de Grãos e Oleaginosas da hEDGEpoint Global Markets, Pedro Schicchi, já considerando o aumento da mistura de biodiesel.
Esses volumes de até 2 milhões de toneladas são relativamente pequenos, comparativamente ao tamanho da safra brasileira, ainda que em 2023/24 ela possa ficar um pouco abaixo dos patamares recordes de 2022/23, que variam em torno de 155-160 milhões de toneladas, dependendo da fonte.
“Desconsiderando os estoques, isso nos dá um excedente exportável aproximadamente 2 milhões de toneladas menor (de soja), o que não parece tão altista, a princípio”, disse Schicchi, ao comentar os desdobramentos da decisão do governo esta semana de elevar a mistura de biodiesel para 14%.
Essa redução na exportação poderia resultar em embarques de pouco mais de 99 milhões de toneladas de soja em 2024, abaixo do recorde do país de mais de 101 milhões esperado para 2023.
O especialista José Roberto Gomes comentou sobre a maior mistura de biodiesel no diesel, uma informação ainda em análise pelo mercado. Alguns traders esperavam até 15%.
“O mercado deve estar fazendo as contas… ainda mais em um cenário de produção de soja abaixo do inicialmente esperado (no Brasil). Atualmente, os prêmios de óleo de soja estão estáveis. Espera-se suporte nos prêmios FOB Paranaguá para o segundo trimestre, mas com possíveis reduções nas exportações.
Argentina
Em 2024, com uma grande safra de soja, a Argentina deve ocupar parte do mercado global de óleo do Brasil.
Schicchi prevê redução nas exportações de óleo do Brasil de 0,8-1,0 milhão de toneladas, aumentando a demanda interna em 0,2-0,4 milhão comparado a 2023.
A associação Abiove, nesta sexta-feira, projetou que a exportação de óleo do Brasil reduzirá para 1,45 milhão de toneladas no próximo ano.
Em 2022, o Brasil exportou 2,6 milhões de toneladas de óleo de soja, com previsão de 2,35 milhões em 2023, acima da média decenal. Aumento devido à demanda indiana e redução dos embarques ucranianos e argentinos, afetados por guerra e clima.
Gomes, da S&P Global, disse que o cenário do mercado de 2024 também vai depender, em parte, da Argentina. “A safra abundante pode pressionar os prêmios de óleo de soja FOB Up River e limitar o aumento dos diferenciais portuários no Brasil”, afirmou.
“O governo argentino, sob o presidente Javier Milei, planeja aumentar as taxas de exportação de óleo e farelo para 33%, de 31%”, comentou Gomes.
A especialista Ana Luiza Lodi, da StoneX, disse que o volume da safra de soja, a ser colhida em semanas, influenciará as exportações. Quanto ao óleo, ela concordou que a mistura maior do biodiesel reduzirá as exportações.
“Produção menor de soja pode reduzir exportações”, disse Lodi. A StoneX atualizará os dados em janeiro.
Fonte: Roberto Samora | Notícias Agrícolas