Nos últimos dias, um dos temas mais discutidos tem sido as drásticas variações de temperatura em níveis extremos, uma questão que está gerando preocupação direta entre os produtores rurais e todo o mercado agro. Com previsões que não se confirmam, os agricultores de todas as regiões do Brasil e do mundo estão enfrentando desafios com safras e projeções variáveis, o que demanda a formulação de novas estratégias.
Chuvas intensas na região Sul e Sudoeste causaram grandes prejuízos aos produtores rurais. Segundo o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), outubro registrou o maior volume de chuva em 26 anos, impactando a oferta e a qualidade dos produtos/insumos. O clima, fortemente influenciado pelo El Niño, já afetou a colheita de trigo e cevada, culturas predominantes na região. A previsão inicial de produção para 2023/24 era de 8,4 milhões de toneladas. No entanto, atualmente, ela está 15,5% menor do que o esperado, conforme relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Além disso, a redução nas compras pelos moinhos, para o final do ano, está pressionando os preços, que continuam em queda. Na região Centro-Oeste e Norte do Brasil, a escassez de chuvas e as altas temperaturas geram preocupações. Isso resulta em perdas na semeadura da soja, demandando replantio em algumas áreas. A Conab, em relatório anterior, projetava uma produção de soja de 162 milhões de toneladas, mas agora estamos falando em 157 milhões de toneladas. A Conab estima a produção de milho na primeira safra em 25,3 milhões de toneladas. Isso representa uma redução de 7,5% em relação à safra anterior.
Preocupações com seca no Brasil elevam preços e impactam produção de grãos
Nos Estados Unidos, em resposta à demanda norte-americana e asiática por oleaginosas, o mercado está buscando a recuperação dos preços, também apoiado pela preocupação com a seca em algumas partes do Brasil, o maior exportador mundial. Influenciada por uma queda na produção interna e externa, a produção de trigo também foi afetada pelo clima, não apenas no Brasil, mas globalmente. Segundo a Forbes, as importações brasileiras de trigo nos primeiros dez meses do ano totalizaram 3,4 milhões de toneladas, uma queda de quase 1,5 milhão de toneladas em comparação com o mesmo período de 2022, devido à safra menor no Brasil e à oferta reduzida da Argentina.
Para o próximo ano, apesar das expectativas de melhoria nas condições climáticas, a estimativa da Conab para a produção de grãos no Brasil na safra 2023/24 é de 312,3 milhões de toneladas. No entanto, diante desse novo cenário adverso, já se discute a possibilidade de uma queda de 2,4% em relação ao ano anterior.
Estimativas da Safras & Mercados indicam desafios climáticos na produção de soja, milho e trigo no Brasil
A Safras & Mercados estimou a produção de soja do Brasil em 158,23 milhões de toneladas, uma redução de 1,95% em comparação com a estimativa anterior de 161,38 milhões de toneladas. Para a safra americana de soja, então, a estimativa permanece inalterada em 112,4 milhões de toneladas. O cenário para o milho é desfavorável, com uma menor produção nacional, redução na área plantada e queda na produtividade, aliada a uma boa produtividade nos Estados Unidos e, é claro, às condições climáticas no Brasil. Quanto ao trigo brasileiro, a Conab prevê aumento nas importações e redução nas exportações, devido à baixa produção interna.
Dessa forma, podemos antecipar que o clima continuará sendo o principal desafio e influência nos preços no próximo ano. Existe a chance de uma quebra de safra em todas as culturas mencionadas. Isso pode impactar os mercados de commodities, com perspectivas de aumento nos preços. Além disso, a oferta pode diminuir ao longo do ano.
Por: Bianca Vargas | Broker da unidade Feed Ingredients